22 de jan. de 2011

A foto




Fiquei olhando no meu celular até altas horas até que me deparei com uma foto sua guardada bem escondida, talvez, eu não queria lembrar a sua existência. Mas tá, examinei cada detalhe. Seu cabelo curto, porque hoje está grande, seu nariz tão perfeitinho e com a pontinha vermelha, e sua boca tão carnuda. E fiquei pensando que muitas vezes, eu queria ver esse seu nariz, sua boca, seu cabelo perto de mim.
É exatamente isso que eu queria, e talvez ainda quero.  É um dos narizes mais bonitos que eu já vi não exagero, não brinco com a verdade, mas puta que pariu, que nariz bonito que você tem. Mas você tem tudo para ser bonito, tudo, mas tem o olhar de peixe morto, e eu não gosto de olhares de peixes mortos.
Era isso, a foto me passava essa impressão.
Me deu uma saudade de tudo, tudo mesmo, de cada milímetro da sua presença, de cada milímetro do seu tom de voz e do jeito que você tinha de sempre fazer aquelas brincadeirinhas tão sem graças quando algo que eu queria dava errado. Me deu saudade das insônias, dos meus sorrisos sem motivo.
Deu tantas saudades que hoje vou dormir com o celular bem de baixo do meu travesseiro esperando algum sinal de notícia sua.
Essa noite vou fechar os olhos bem lentamente e te imaginar, assim, você vai ficando cada vez mais preso dentro de mim, porque medo dessa vida que espalha as pessoas pelo mundo.
Você deve está feliz com a vida que escolheu, mas como tudo isso me deixa no vácuo cada vez mais, tudo isso é dramático demais, tudo isso é podre, tudo isso é vontade. A foto ainda está no meu celular, porque simplesmente não consigo mais apagar seus rastros pelo meu mundo. Se fosse tão simples, tentaria mesmo até tirar você definitivamente do meu mundo, mas como sempre desisto na primeira tentativa fica tão difícil.
Você era um amor para durar apenas uma noite, ou quem sabe duas, ou quem sabe para durar só quando me sentia tão sozinha, mas acabou virando isso, um drama cômico que me parece tão intenso e tão duradouro. 
Não consigo ver você indo embora de vez, sendo que sempre espero você voltar para poder ficar para sempre. Não consigo te deixar indo embora sendo que estou ficando.
Consigo olhar tanto essa foto sem enjoar, talvez algo dentro de mim acredita que se eu encarar muito ele te traga para perto de mim, para aonde eu estou, para esse quarto escuro e totalmente sem vida.
Tento procurar motivos lógicos para poder deixar essa história, mas algo dentro de mim anda acreditando que tudo um dia será mais claro, algo dentro de mim acredita sim, e acredita muito que um dia, um dia, esses contos vão te trazer de volta, porque é isso que eu faço, escrevo para tentar te trazer de volta, mesmo que seja dentro da minha memória.
Me lembro de tudo, mas não é mágoa, nem ódio, também não tenho vontade de te matar. Tudo isso é saudade, é um pouco de melancolia de fato, e até mesmo masoquismo, mas é que às vezes sinto uma falta tão grande de você, de mim, do que nós fomos e do que nós deixamos de ser. É isso que acontece. Todos os amores que tive foram tão passageiros, eles foram e levaram os meus pedaços tentando aliviar todo o drama e toda ausência sua que cheguei sentir.
Seus olhos que são de peixes mortos são os mais bonitos que já vi não me lembro mais a cor deles, mas lembro que consegui ver o futuro dentro deles. ECA! Que coisa mais poética-dramática-nojento-brega. Você é a coisa mais poética-dramática-nojenta-e-brega que consegui suportar nesse tão longo tempo. Quando penso que tudo está sumindo, é engano meu tudo está renascendo cada vez mais forte, cada vez mais com riscos de durar por mais tempo. E mais uma vez olhei a foto que tanto gosto sua, não sei por que gosto tanto dela, sendo que ela não é nítida, sendo que ela não é atual, talvez sim, talvez eu fosse apaixonada pela pessoa que você era.
Talvez, seja isso o motivo.
Sei viver tão bem no passado, mas tenho tanto medo do futuro que prefiro deixá-lo para depois. E não é nada não viu? Mas eu ainda adoro o seu olhar de peixe morto, com a sua boca carnuda e o seu nariz tão bem desenhado.

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