29 de jan. de 2014

Retrato - Cecília Meireles

            
       
Eu não tinha este rosto de hoje,
assim calmo, assim triste, assim magro,
nem estes olhos tão vazios,
nem o lábio amargo.

Eu não tinha estas mãos sem força,
tão paradas e frias e mortas;
eu não tinha este coração
que nem se mostra.

Eu não dei por esta mudança,
tão simples, tão certa, tão fácil:
- Em que espelho ficou perdida
a minha face?


Cecília Meireles 

25 de jan. de 2014

Tumultos de uma vida monótona




Passei dias querendo escrever ou pelo menos, tentando formar algumas frases bobas mas que desse algum sentido. Acho que aos poucos estou me esgotando. Esgotando emocionalmente, profissionalmente e até mesmo no sentido literário. Não consigo mais acompanhar os livros que tanto gosto, e não tenho mais paciência para alguns filmes que antigamente eu adorava. Acho que a vida nada mais é do que isso: Perder a paciência com coisas que tanto te agradou um dia, e que hoje, não há espaço mais para elas. Me despedi do filme Closer, porque não tenho mais paciência para sofrer junto com Alice, mas também, me despedi porque me vejo em seu papel, me vejo sendo ela em vários momentos da minha vida. Sendo Alice mais uma vez, me pergunto: Where? Show me! Where is this love?
Ao longo da minha vida me apeguei a inúmeras pessoas, e aprendi a ser um pouquinho mais seletiva. E aprendi também a fazer algo muito sábio. Aprendi a controlar minha sensibilidade tão exagerada, e a minha fragilidade tão a vista de quem pudesse ver. Era como se eu carregasse uma plaquinha dentro do meu peito afirmando o que a maioria das pessoas já sabiam: Cuidado, você está lidando com alguém frágil. Mas ninguém se importou, e nem eu me importei. Suguei até a última gota até que finalmente resolvi dar meu grito de liberdade, ou pelo menos, disfarçadamente, dei meus gritos de liberdade implorando para voltar atrás.
Tudo que eu queria era mais, e mais, e claro, mais um pouquinho só. Quis tanto e tantas vezes que aos poucos, fui me tornando só um pó no meio das lembranças alheias. Lutei tanto, quis calar o mundo, e quis me calar. E tudo que eu precisava era de alguém que pudesse me calar a força, ou me fizesse parar de uma vez por todas.
Até nunca mais. Foi bom te ver. Ok. Não há como mentir, e nem suplicar. Tenho vontade de cobrar passagem de quem entra e quem fica na vida. Me sinto um aeroporto que chega e que sai. Vejo beijos, despedidas, e alguns olhares escondidinhos e aflitos. Daqui eu vejo tanta gente. Tanta. E são despedidas. E as chegadas, às vezes, me assustam tanto. É preciso recomeçar. Porque está na hora, e porque é o certo, não é? Não é isso que dizem? É preciso desapegar daquilo que não te serve. E isso sai como se fosse um poema mal organizado de Fernando Pessoa, e até mesmo algo sem nexo que foi escrito por aí. Mas não é. Não foi. Nunca será.
Porque sabe, a vida é isso. A gente enfrenta, luta para chegar até o fim e simplesmente desiste. Virar as costas, sem despedida alguma e dar um tchauzinho sem graça. Ou virar as costas, dizer suavemente aquelas palavras estranhas: Até qualquer dia, ou até nunca mais.




13 de jan. de 2014

Um dia como todos os outros




O calor está insuportável e lá fora as pessoas estão felizes, ou estão levando uma vida digna. E eu estou aqui, remoendo meu passado, criando algumas vinganças e chorando sem parar. Gosto tanto de chorar mas não é por tristeza, ou talvez, até seja, mas não é por aquela tristeza infinita. Apenas gosto porque é a forma mais sábia e linda que existe para se purificar. Mesmo que não haja algum nexo, deixo aqui explicado apenas o que sinto, o que vivo e o que passo. Não quero ter que lidar com algo muito maior que a minha existência, e não quero carregar o mundo comigo, porém, isso é tão difícil, tão vasto, tão vazio. Eu sou de quem não me quer, e ele é de quem quiser. É tão complexo, tão intragável, tão ridículo, que tudo que eu mais quero é implorar de joelhos para que tudo acabe o mais rápido possível. Não queria ter chegado até aqui. Não queria ter enfrentado tudo isso sozinha, e agora, de novo, eu estou sozinha enfrentando tudo de novo. Me perdi de mim. Me perdi de você. De nós. E de todos.
Me perdi todas às vezes que eu fui embora e que logo seguida, eu quis voltar. Me perdi e me encontrei todas às vezes que consegui me perdoar mesmo sabendo que não há perdão por ser tão assim, tão cheia de mim, e tão vazia dos outros. Só quero saber se a minha doença é tão grave assim. Não me animei comendo batatas-fritas. Não me animei comendo chocolate. Não me animei quando um cara disse que gostava de mim. Não me animei porque sabia que teria que enfrentar mais uma vez o mundo e toda aquela ladainha de sempre. Só quero deitar e dormir. Só quero tomar meu calmante e dormir só um pouquinho. Mas eu não quero ser triste. E não quero também ser exageradamente feliz. Só quero viver um dia de cada vez mesmo sabendo que isso é tão impossível. Fui embora tantas vezes prometendo que nunca mais voltaria, e quando dei por mim, estava lá no mesmo lugar de sempre, fazendo as coisas erradas de sempre, e querendo sempre mais, mesmo sabendo que deveria querer sempre menos.
Tudo isso pesa. Mas não como se fosse uma carga extremamente pesada, é apenas uma dorzinha lá no fundo da alma e sangra. Sangra muito. Meu corpo já não se encaixa mais. Minha alma já não quer mais espaço para que eu fique nisso. E eu gostaria tanto de parar e só consigo apertar o acelerador. E isso machuca e me faz sangrar, e até mesmo, quebra meu orgulho em zilhões de pedaços e eu não quero isso. Para ser bem franca, eu nunca quis. E nunca imaginei que chegaria ao ponto que estou. Não conheço o freio, e só consigo acelerar dia após dia, noite após noite. Me destruo inúmeras vezes para que possa me compreender. Me diluo nas tuas palavras para que você possa me encaixar. Me disfarço para que possa me ler. Me encontro para que possa me perder. Me perco para que você possa me encontrar. Mas olhe para você ver, de novo, não deu. Pois é, não deu.
É só um dia como todos os outros. Eu estou um pouquinho mal, e um pouquinho cega (para não dizer que estou totalmente no fundo do poço, e totalmente cega). E é só um dia terrível, e eu já venci dias assim. É só mais um. É apenas mais um. E eu sei lidar com eles. Bom, eu espero que sim. Se tudo for difícil, sinto muito. Sinto muito por você, e por mim.



Prévia do texto "O que você nunca soube"


3 de jan. de 2014

Adeus você




Fogos estouraram comemorando o ano novo
Eu falei baixinho um adeus
Uma lágrima caiu
Caiu meio desajeitada
Meio falsa
Meio bêbada
Meio sem graça

Uma lágrima meio falsa
Meio romântica e poética
Meio Lispector
Meio Leminski
Meio Bukowski

Meio crônica
Meio Martha Medeiros
Meio Tati Bernardi
Meio Caio Fernando

Meio dramática
Meio sem sal
E sem muito escândalo.
A lágrima apenas desceu.
Desceu sozinha.
Igual a nossa história
 
É só mais um adeus
Um adeus programado e prolongado
Um adeus evitado
Um adeus tão sem graça
Que não há graça de assistir

Os fogos continuaram
Outra lágrima rolou
Rolou como havia de rolar
Como havia de sangrar
Como havia de ser
Outra lágrima. Outro fogo de artifício.
Outro eu

Meu corpo estremeceu
E de novo quis fugir
Fugir pra lá
Pra cá
Fugir pra sua casa
Pra sua vida
Pra sua história

Mas não posso
Posso até ser adulta e sua
Posso até ser criança e nua
Posso até ser de ninguém e crua
Posso até não ser de mais ninguém
Nem minha. Nem sua. Nem dele

Mas na verdade
Não posso dizer adeus
Para aquilo que nunca começou
Não posso terminar algo
Que infelizmente
Não começou

E mais uma vez
Adeus você
Adeus de novo
Adeus ano velho

Adeus de novo
Adeus.

 Para ouvir: Adeus você - Los Hermanos

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