14 de fev. de 2023

um texto para alguém mas não sabemos quem

 

Eu quis tanto escrever e eu não sei nem os motivos exatos para isso. Por você ou por mim? Despedida? Ou o quê, afinal? É como se eu não merecesse existir mais no espaço ocupado. Acredito que seja até prepotente da minha parte acreditar que sou digna de alguma coisa que nem sei do que exatamente. Acreditando apenas na forma mais ridícula de usar um gerúndio. Odeio gerúndios no geral. Entre ficar se apaixonando e se largando. Olha que horror para a língua portuguesa, e para a nossa vida, não é?

Você nunca morrerá porque eu me apaixonei por você. É assim que funciona a mente dos escritores que mal seguiram a carreira. Eu nunca vou deixar você se morrer, e como diria até o próprio Caio Fernando: Volta que eu te cuido, e não te deixo morrer nunca.
Não te deixo morrer nas músicas que escuto, nos livros que tento ler mas minha cabeça agora dá um enforcamento. Não te deixo morrer nas roupas que uso e compro compulsivamente. Não te deixo morrer quando me dou espaço e tempo para chorar.

Pausa. Interfone toca. Eu estou tentando aproveitar meus últimos momentos com a minha antiga eu. Com aquela mesmo que você conheceu, mas que não existe mais. Deixou de existir quando te encontrei e que existiu quando me reinventei quando não quis mais existir. É assim que eu funciono. Morro aos poucos e me reinvento com novos pedaços. Eu estou morta de novo. Mais uma vez. Quantas vezes morri em quase vinte anos entre a euforia e depressão? Vinte anos são puramente exagerados. Eu diria que quinze anos. Quinze anos morrendo e revivendo todos os dias.

Quis ser um casal que eu vi. Dois senhores usando suas camisetas de rock, com seus cabelos brancos e com tatuagens. Quis ser eles. Sem saber quem são, o que fazer. É como se fosse uma despedida e uma espécie de perdão. Perdão pela minha adolescência horrível, pela minha juventude vazia, e pela minha idade adulta que se formou e eu nem ao menos reparei. Perdoando apenas, no gerúndio, e a na forma mais xucra em dizer, perdoando por ter amado tanto e por não conseguir ir embora. Ou perdoar por me aproximar? Qual atitude minha seria digna de perdão? Ou apenas sou uma eterna pecadora e cheia de amontoados de erros, frases soltas e solidão podre? Quem é você que me lê?

Eu pude ouvir minhas músicas da adolescência, pude ver meus amigos que fiz virtualmente em São Paulo, pude perdoar minha adolescência, e pela outra eu que existia. Eu não tinha a menor noção do que fiz, e por isso, não há como me perdoar. Não preciso que perdoe essa pessoa. Não preciso nem ao menos pedir perdão. Não por isso. Mas eu preciso pedir perdão por ter amado. Por ter tomado cada gota do teu amor e esperando que eu fosse morrer ali, ou que eu sobreviveria ali. Por ter amado incondicionalmente como se eu pudesse ser feliz. De verdade, e pela primeira vez. E olhe só, fui feliz e depois fui atormentada por silêncios, vazios, e finalizações.

Eu sinto saudade de existir em silêncio. Sinto saudade em só respirar aliviada por esse encontro. Sinto saudade do conforto de ficar quieta. O mundo silenciava quando eu estava presente. As vozes da minha cabeça finalmente haviam se calado. E olhe só, elas voltaram. E gritam muito pedindo de novo esse buraco negro feito de sombra e de silêncio. Eles pedem a nossa faísca. Mas como acender algo que se acabou? Como me reinventar depois desse encontro?

O que eu faço comigo?
Eu sou responsável pela expectativa que criei 
Você não é

E isso é o que nos difere. 


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