27 de dez. de 2013

Laylices da vida




Ano novo e essa ideia farjuta que tudo será diferente, que serão novos amores, e até mesmo novas dores. E se eu não estiver pronta para esse tal ano novo, hein? E se eu não quiser mesmo abandonar tudo e simplesmente começar algo tão novo, tão imaturo e tão sensível? E se eu não chegar até lá? Eu não entendo essa ideia de querer algo novo sendo que você não está preparado para isso. Você está preparado mesmo para abandonar aquela história? Você está preparado mesmo para gritar que merece um algo novo, sendo que não é capaz de simplesmente seguir em frente? Pois é. São coisas assim que merecem ser refletidas.
Poderia escrever uma lista de coisas que preciso fazer para o ano que vem. E de fato, comecei uma lista que pode até se dizer que tem muitas coisas supérfluas, mas que ainda assim, tenho essa ideia que preciso ter. Li novamente a lista e sei que não vou cumprir a metade daquilo. Quem eu quero enganar? Eu sou assim, ué. Eu sou assim. Cheia de manias e carências. Cheia de listinhas mentais. Cheia do nada e vazia de tudo.
Então, tudo bem, estou apostando no vermelho esse ano. Não, eu não quero mais uma paixãozinha para minha vida. Então, que tal verde? Não, também não. Mas também, preto não serve. Tem como eu passar a virada do ano pelada? Vai que dessa vez tenho sorte. Vai que né, dessa vez tudo vai ser diferente/você tem que aprender a ser gente - Desculpe, é quase impossível não cantar essa música quando o fim do ano está próximo.
Eu andei pensando que como a vida é passageira. A vida é tão sem graça, se for pra pensar. Você cresce, fica adulto, começa a pagar suas contas, se aposenta e depois morre. E eu não quero viver assim. Eu não quero ser morna e viver para sempre nessa temperatura que não queima mas também não esfria. Não mereço ser assim. Eu, por ser tão impulsiva, não mereço ter uma vida meia boca, um amor meia boca, uma história meia boca. Não cresci para ter que aturar pessoas vazias, e sem nexos. Não cresci para ter que ser legal com todo mundo. E às vezes, ser arrogante e propositalmente fechada no meu mundo, acabam sem querer sendo as melhores qualidades. Tudo bem, não penso muito para falar e sou bastante explosiva. Mas é aquela história, se não quer se molhar, então, ora, que não entre no meu mar. Tratei de achar que mereço um pouco de consideração mesmo que seja pouca. Tratei de achar que mereço um pouco de príncipe encantado e toda aquela fantasia, mesmo não acreditando nada disso. Me tratei e tratei o mundo conforme o meu ponto de vista. Não ultrapassei meus limites mas confesso que, forcei a barra muitas vezes. Não fui contra ao meu sexto sentido e nem a favor da minha insanidade. Me mantive neutra porque foi preciso, mesmo querendo ser queimada pelo tal fogo da vida.
Não gosto de fazer planos porque sei que é o caminho mais curto para me decepcionar. Fiz tantos planos em cima de tantas pessoas. Fiz tantas histórias longas em cima de continhos passageiros. Fiz de tanto amor em cima de puro tesão e conveniência. Que hoje, o melhor é não fazer nada. É só deixar o barquinho correr conforme a maré. É melhor se deixar levar. Deixe-se levar que eu estou me deixando. Vai que um dia, a gente se encontra. Vai que um dia, tudo possa ser mais claro, mais limpo e mais amplo. Deixe-se levar. E se puder, me leve com você.

22 de dez. de 2013

Santa Claus




Querido Papai Noel,

Eu sei, prometi que iria perder uns quilinhos, mas não perdi. Prometi que iria parar de ser idiota, mas não parei. Prometi que iria cair fora dessa história tão sem pé e nem cabeça, e não cai. Prometi muitas coisas e não cumpri 1/3 delas. Sei que fui uma pessoa bêbada, e me meti em incríveis roubadas mas me diverti horrores, sabe? Então, eu não me sinto muito culpada por estar sempre em grandes roubadas, porque sim, eu fui muito feliz quando havia chances para ser feliz, então, eu não quero te pedir muitas coisas. Sei que deveria ter me comportado mais, e ter ficado quieta na maioria das vezes. Sei que deveria ter relevado muita coisa e que não deveria estar escrevendo para alguém que não existe no ápice dos vinte anos, né? Mas foda-se, é tão legal escrever para você. É tão legal poder dizer que cresci. Não sou mais aquela magrela do cabelo liso e castanho que estudava em uma escola de freira. Não sou mais aquela magrela que corria pela casa e nem pelo jardim. Não sou mais aquela menina, entende? E tudo que eu queria era continuar sendo aquela de sempre.
Dizem que eu já fui meiga mas eu não me recordo. Minha mãe diz que era meiga até eu mudar de colégio, mas na verdade é que ninguém sabia que eu sempre fui assim. Nunca gostei muito de receber abraços, e minha mãe também diz que talvez porque não fui muito de abraçar, e às vezes, ela diz que a falta do meu pai, pode ter levado essa consequência, mas eu não sei Papai Noel, não sei. Então, eu queria a paz mundial. Mentira, eu não quero. Eu quero mais amor, sabe? Eu quero ter um pouquinho mais de paciência porque eu sei que sou compreensiva com quem não deveria, então, quero ser compreensiva com todo mundo. Não espero que você me mande um namoradinho que saiba o que está fazendo - sim, exatamente, estou falando de sexo - Não espero porque sei que um dia ele vai chegar, só não sei quando, nem onde, mas um dia, ele vai chegar. Fui muitas vezes passageira e distante mesmo sentindo tudo ao tempo todo. Me senti triste muitas vezes, e isso diminui um pouco a minha culpa, não é? Eu me senti péssima por ter tratado tanta gente mal. Eu preciso que entendam que só trato mal porque tenho medo de chorar mais tarde. Estou tão acostumada em ser um ponto de passagem que é tão difícil permitir que alguém fique. Preciso ir embora antes que tudo cresça e amadureça, entende? Eu não queria ser assim, Papai Noel. Eu nunca quis. Se causei algum mal alguém, peço desculpas. Se eu feri alguém, peço mil perdões. Se eu fui embora da vida de alguém, saiba que fui medrosa e não pude ficar.
Sabe, Papai Noel, eu chorei algumas vezes. Vi a loucura batendo na minha porta praticamente todos os meses, e queria muito que você relevasse meus erros sabendo que todas às vezes que eu errava, também estava me ferindo. Finjo que sou complicada só para poder justificar algo que não há justificativa. Finjo que sou tão passageira, para que ninguém veja o quão profunda realmente sou. Sou leve para que possam me carregar em suas vidas, sabe? Mas eu não queria ser assim, Santa Claus, eu não queria mesmo. Mas sabe, Santa, no começo, era divertido e agora não é mais. Eu me cansei de ser legal, cool e moderninha. Cansei mesmo. Fiquei tão esgotada que acho que mereço centenas de horas para dormir. Mas olhe só, sobrevivi mais um ano. Palmas para o destino e para minha força de vontade tão sempre maquiada.
Oh, me desculpe, esqueci dos pedidos. Eu não sei o que eu quero de Natal. Quero mais é descanso, sabe? Um pouco de sossego e uma dose de fé em mim. Preciso acreditar mais em mim, preciso ter mais vontade de vencer. Não quero ser uma daquelas pessoas que se fecham com o tempo. Não quero continuar achando que sou esperta demais e por isso mereço ficar sozinha o tempo todo. Não quero mais gostar de ficar sozinha. Preciso só ter mais fé, um pouquinho de paciência - por mais que eu seja a compreensividade em pessoa - preciso mesmo de muita fé, amor, e sossego. Fé, amor, sossego e paz. A famosa paz interior. A famosa paz.
Santa, eu acredito tanto no amor mesmo tentando evitar. Sei que fujo e disfarço. Sei que vivo de disfarces e me nego a ter encontros com homens legais, dignos de serem amados, mas espero que você me compreenda e não me repreenda. Então, seja como for. Aqui está. Fiz meu papel e estou te escrevendo depois de algum tempo. Como sobrevivi esse ano, certamente estarei aqui o ano que vem.

Obrigada.

Layla




19 de dez. de 2013

Sobre o que estou esperando - Tati Bernardi








Imagine um cookie de Diabo Verde. É horrível de mastigar, quase impossível de digerir, às vezes você vomita pra não morrer e o pacotinho com quatro custa uma fortuna. Isso se chama análise lacaniana.

Numa reunião de psicanalistas, psicólogos e psiquiatras, fica fácil identificar cada um deles. Os psiquiatras dizem não beber mas, o tempo todo, pedem uma pequena dose de qualquer coisa antes de, com olhos dilatados demais para alguém que não quer parecer bobo, começarem algum discurso científico (e parecem sentir certa vergonha arrogante disfarçada de diploma de medicina), os psicólogos são ternos, encostam nas pessoas e se vestem mal (se forem cognitivos, são os que sorriem o tempo todo e sobram sozinhos na mesa), os psicanalistas freudianos prestam atenção a tudo com um misto de sarcasmo com tristeza mas sabem, no fundo de suas almas, que a tristeza é uma desculpa falsa humilde que deram para poderem continuar sendo sarcásticos. Os lacanianos não foram. Ou, se foram, estão rindo porque os cognitivos sobraram justo na mesa onde eles passaram melecas de nariz.
Tô nessa de Lacan há quase um ano e o único motivo que ainda me leva a degustar desse docinho desentupidor de merda é justamente sentir, por uma das primeiras vezes na vida, a minha merda desentupindo. Ele corrói sem dó mas resolve, tal qual o líquido dos infernos que tenho na minha despensa.
Pra quem não conhece o método, é a psicanálise em seu estado mais cruel (ainda que aqui a palavra cruel esteja mais no sentido de cru do que de crueldade- e não me perguntem o que eu quero dizer com isso porque apenas sinto que é assim e já percebi que quando digo essa frase “só sei que sinto” minha analista se chacoalha inteira no sofá de couro causando um imenso barulho que aprendi a chamar de um lugar no coração da Hitler dos subterfúgios da alegria cerebral). Tem o lance do divã, tem o lance do terapeuta sentar atrás de você (nos meus acessos de precisar de amor eu quase quebro o pescoço em busca de um olhar de aprovação “olha, o que ela está falando é muito bom!"), tem o lance do “não tem panos quentes não, filha de Deus, até porque ele não existe”. E tem também os silêncios terríveis...para os outros, porque eu nunca fiquei em silêncio em toda a minha existência.
Minha meta na vida, desde que desmamei e/ou minha mãe se distraiu dois segundos em me adular sobre todas as coisas, é ser incondicionalmente amada. Para isso, adquiri língua afiada, olhares jocosos e pés prontos para chutar e/ou sair correndo. Resumindo: criei e alimentei tudo em mim para justamente nunca mais ser amada ou ser amada apenas incondicionalmente. O que eu sei que não existe mas continuo sofrendo por não existir. Isso já está identificado desde meus seis anos, quando análise não era pra mim e sim para os filhos de muito ricos que estouravam restos de biribinhas em gatos de marca. Mas eu já sabia. A respeito de mim, eu sempre soube de tudo. Desde sempre. Mas saber não é exatamente desentupir a merda, daí que toda quinta bato cartão (ou ela bate minha carteira, nunca sei) no consultório perfumado e de paredes com isolamento acústico de minha analista. Aliás, isolamento que não funciona: eu sei, por exemplo, que o cara antes de mim se sente culpado porque o filho tira notas ruins e o cara depois de mim sabe, pela cara de pavor com a qual me olha na saída, que eu já aumentei pra dez o número de homens que sonham que estão sem pau quando saem comigo.
A coisa está indo super bem (o que significa que está terrível, insuportável e péssima) até que, nessa última quinta, melhorou ainda mais (o que significa que piorou muito). Quando eu já estava praticamente do lado de fora do seu consultório, chamando o elevador, já me recuperando de meu estado de lixo orgânico, de chorume existencial, ela abriu a porta mais uma vez, olhou pra mim daquele jeito que você só perdoa que uma pessoa te olhe se ela tiver, nitidamente, 20 anos a mais de estudo que você, e me disse “você está esperando o quê?”.
Eu quis responder que era o elevador, mas dada a sua frieza e seriedade, era óbvio que ela se referia à sessão que tinha acabado de acabar. Eu quis responder qualquer coisa, mas ela mandou a bomba e correu sem nem dar tempo do meu desvio de septo voltar pro seu lugar errado. Agora, como dizem por aí, era comigo “mermo”.
Passei a quinta inteira catatônica, tentando adivinhar o que eu deveria fazer para que não esperasse mais o que eu estava esperando. Eu deveria resolver alguma coisa, de certo, mas o quê? Sim, eu deveria parar de esperar, mas para parar de esperar, antes, eu deveria saber o que cazzo eu estava esperando. Que que eu tava esperando?
Passei e repassei a sessão um milhão de vezes na minha mente. Eu tinha falado de tararã, eu tinha falado de tarará, eu tinha falado também que tarará tinha o tararã maior que o do tarararão mas que o tarararão era muito mais tatataratatá que o tararinho. Mas nada disso me deu a pista que eu precisava para saber o que eu esperava até porque, disso tudo o que eu falei, eu não esperava absolutamente nada. Como sempre.
Você está esperando o quê? A voz dela me perseguiu pela sexta também, pela madrugada, pelo sábado. Ah, tantas coisas. Tô esperando ficar rica pra comprar uma casa maior. Tô esperando o último capítulo da novela pra ligar pra Gabi. Tô esperando meu chefe voltar pra pedir um aumento. Tô esperando a grana do freela entrar pra pagar o cartão de crédito. Estou esperando esquentar o tempo pra ir na depilação. Estou esperando os quarenta pra declarar estado de calamidade pública pra minha bunda. Tô esperando a minha vizinha reclamar do Radiohead de novo pra poder reclamar que ela toca tuba as quatro da manhã. Tô esperando a próxima temporada do House. Tô esperando a próxima quinta pra socar você, querida analista.
Quando a mente naufraga pesada demais, vou pro teatrinho infantil que mora lá pelas bandas do meu coração. Encenar minhas sensações pra ver se descubro algo que está difícil de se explicar sem figurinhas. E meu teatrinho infantil me botou em cima de um cavalo branco, com uma varinha de condão. Podia ser uma espada, mas acredito que uma “vara” que transforma o mundo é ainda mais pau que o pau que simplesmente luta, fura e mata, então lá tava eu de varinha mágica, toda me achando a princesinha ainda que a princesinha espere e não aja e eu, como boa pessoa que não deveria esperar por mais nada segundo a minha analista, estivesse agindo. Tá, agora faço o quê? Vou pra onde vestida de besta desse jeito? Eu tenho medo de cavalo, vara com estrela na ponta não me serve de nada. De que me serve meu potencial de macho se ele só me enfraquece? De que me serve a vontade de ir se o lugar não existe? De que me serve, afinal, esse amor?
Amor, é de amor que você fala? É. Tudo em mim respondeu, fazendo o som do recuo já sem forças de uma onda que explodiu na minha cara. Ééééééééééééééééééééé. O uníssono da concordância, como é bonito o equilíbrio único de uma constatação puramente verdadeira. O sopro do que cala fundo inundando, trazendo a resposta para as partes mais esquecidas e longínquas do que somos. Ééééééééééééééééééééééééééé.
Tô esperando o dia que isso vai passar. Isso aqui, que falo descarada e cifradamente, mas sempre. Isso que espalho em cada linha, o tempo todo, o muito peneirado ao longo desses dias todos, soando pouco mas sem parar, nos intervalos dos reais intervalos. Tô esperando acabar, passar, morrer, sangrar até o fim. Esperando o tempo que acalma chamas com seus ventos de mil pés distantes. Esperando alguém que ocupe, distraia, desacorrente, solte, substitua, torne nada demais. Esperando não sentir mais ódio e nem tesão e nem ciúme e nem saudade. Esperando porque é o que resta mesmo, não é falta de coragem, não é de se fazer, é de se sentir e só. Nem sempre a força de um amor é pra sair às ruas, pra viver histórias. No meu caso, sozinha mesmo, preciso ninar esse enjôo de um filho sem pai, esperar que ele nasça morto e enterrá-lo já sem dor. A gravidez do coração dura mais do que deveria e só expulsa seus filhos quando esses já nem existem mais.
Tá, analista dos infernos, eu entendi. Mas você erra quando acha que alguém resolve um amor. O amor é que, se tivermos coragem pra deixar, resolve aos poucos a gente.

11 de dez. de 2013

Palavras



Vivo me trapaceando todos os dias
Busco um novo perfume
Uma nova história
Uma nova pessoa
Mesmo sabendo que há outra pessoa entalada em mim.
Mesmo sabendo que não quero outra história
Nem um novo perfume

Escrevo e penso
Penso e não sinto
Sinto e não penso
Não na mesma ordem
Mas tudo na mesma intensidade
Pensar
Amar
Sentir
Morrer

A morte é tentadora
Ela senta ao meu lado
Me conta histórias tristes
Mas eu não dou moral
Eu não quero dar moral, não agora

O vazio sufoca
O excesso de silêncio me faz engasgar
Eu preciso encontrar uma palavra
Uma palavrinha só
Algo que pudesse traduzir tudo que estou sentido agora

Ego
Acho que é isso
O meu grande problema
Não sei

Assim não poder ser
Eu não quero viver assim
Você não entende?

Não
Você não entende
Você não me sente
Você não vê
Não como eu gostaria

1 de dez. de 2013

Manoel



No começo, Manoel, doeu muito. Doeu de todas as formas que poderia doer em uma pessoa. E você sabe, Manoel, você sabe que eu sou daquelas que sente muito por todo mundo. Eu sinto muito por tudo, por todos. Sinto pelo mendigo que está lá fora e pela pombinha atropelada. Sinto pelo vazio dentro do seu peito, e do meu amor desperdiçado. Sinto por aqueles que não sentem, e por aquele que não sente nem pena de mim. Sinto muito, sabe? E eu sinto muito por ter visto tudo aquilo que não deveria. Sinto muito por mim. Colori personagens, e desfiz sentimentos. Construí frases feitas com efeitos significativos e ignorei o óbvio. E eu sei, Manoel, eu não deveria ter feito isso. Ignorei o mundo porque minha verdade sempre prevalece. Ignorei o destino e todos os avisos celestiais. Você sabe, eu pedi luzes mas como diria aquele bom e velho ditado: As pessoas vêem o que querem realmente ver. E eu apenas vi luzes verdes para que eu pudesse atravessar e seguir, e não deveria ser assim. É uma pena que não te ouvi, Manoel. Aos poucos, me acostumei. Estranho, né? Eu sei que você também deve estar rindo para mim. Na verdade, você deve estar rindo de mim e dizendo "Se fudeu, troxa!" Mas alivia dizer que também estou sofrendo por isso? Alivia dizer que não quero seguir em frente? Eu não quero seguir em frente. Só quero ficar aqui quietinha, para sempre, observando.
A dor é temporária. Doses de vodka são facilmente substituídas pelas dores eternas. Minhas dores tão eternas mas tão passageiras. E são milhares de promessas vazias, e copos solitários durante a noite. Meu corpo clama por descanso e só sei me foder, e foder, e foder com tudo. Com a minha vida, com o meu corpo, e com a minha consciência. Quero tanto parar, Manoel. Quero tanto dizer um basta, mas como eu faço isso? Como posso deixar de lado sabendo que há tantas coisas para dizer? Coisas que jamais são confessadas publicamente, e jamais devem ser registradas. Como posso dizer adeus sendo que quero ficar? Como, Manoel? Preciso de uma luz. E olha, sei que não estou disposta a enxergar luz alguma, já que estou com sono.
Lembro de todos os fatos e de todas as palavras tortuosas. É como se eu pensasse que tudo isso tem algum propósito, mesmo não querendo enxergar qual é o propósito. Certo, foi apenas mais uma dor numa noite caótica. Foi apenas uma cosquinha no ego, mesmo sabendo que tudo está perdido e não há mais caminhos. Não posso voltar, e não devo ficar. Só quero ir em frente mesmo sabendo que daqui alguns anos, acordarei assustada, e querendo ter notícias. Porque sei que é assim, não é Manoel? Sabe, Manoel, dói ser gente. Não consigo pensar em outra palavra sem ser dor. Dor rima com amor, mas só consigo me lembrar de Tédio que não me lembra mais de nada. Peço desculpas por brincar com as palavras, porque eu sei que é complicado querer que eu fique séria e centrada quando esqueço que sou apenas uma mulher assustada.
Queria tanto dizer a verdade, Manoel. Queria que tudo fosse mais claro, mais limpo. Queria tanto poder dizer o que sempre sonhei. Eu sei, Manoel, sei que posso dizer mas são coisas que não deve se ditas, entende? Não há motivo algum para revelar meus segredos. Não há motivo algum para continuar socando essa ponta de faca. E eu só consigo me ver sangrando por continuar assim. Daqui uns dias, Manoel, você vai me chamar de ridícula já que mais uma vez, estarei voltando a etapa inicial. Mais uma noite, eu vou chorar e querer surtar. E aí esqueço de novo, como sempre fiz, como sempre vou fazer. Tenho tantas opções, Manoel. Tantas... Infinitas... E eu posso muito bem escolher, mas finjo que não existe nada e ninguém. Finjo que não sei do que acontece. Tento enganar meu sexto sentido e minha maldita intuição. Finjo que não quero estar. Finjo, e fujo. Fujo todos os dias, e todas as noites. Fujo e não quero mais me encontrar.
Tem algo dentro de mim que continua vivo. Algo dentro de mim que implora por uma saída, por uma solução. Tem algo que pede para que eu volte para a vida que eu estava, para os sonhos que eu tinha. Tem algo que reza para que eu volte chorando para a sua casa e que eu diga que aceito ser leve demais para você. Mas tem algo que implora por vida nova, vida cheia de outras coisas, outros sonhos, outras pessoas. Sou divida por um lado que pede para voltar ao passado, e o outro que implora pelo futuro. E tudo que eu mais queria nesse exato momento é parar. Sabe, ficar quietinha aqui dentro desse quarto escuro. Ficar aqui esperando que tudo se resolva ou que tudo se foda se a minha ajuda. Queria me tornar uma bolha em cima do mar. Queria ser uma bolha que fosse com o vento e de repente, pluft! sumiu.
Sabe, Manoel, eu queria tanto e por querer demais, eu não quero mais nada. Eu queria tanto, desejei tanto, implore tanto em silêncios, que no fim das contas, não quero mais. Espero Manoel, que amanhã, eu não tente me sabotar. Espero do mundo do meu coração que não tente novamente. Espero só para poder dizer que não esperei mesmo sabendo que não há chance alguma. Sabe, Manoel, me deixa dormir aqui com você. Sim, não vou te atrapalhar. Por favor, me abrace e diga que vai ficar tudo bem. Minta isso para mim, por favor. Me abrace e diga que sim, amanhã tudo estará melhor, mesmo sabendo que não, amanhã não vai estar melhor.




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