25 de mai. de 2014

Eu não faço a menor ideia do que estou fazendo com a minha vida




Um taquicardia, um gosto amargo na boca, e uma sensação de estar caindo nos próprios passos. Domingo, um dia triste e monótono. Um dia triste que fico me perguntando em quantos casais terminaram em um domingo? Quantos casais começaram em um beijo dado num domingo naquele cinema? Quantas pessoas falaram tchau, e nunca mais voltaram? Inúmeras. Incontáveis. E por isso, domingo nunca foi e nunca será meu dia preferido. Até porque está próximo de segunda, e segunda-feira me deixa mais irritada do que já sou. Até porque domingo me lembra despedida, e eu não gosto de despedidas.

Lembro quando pequena, queria ter um príncipe e ser a Branca de Neve. Lembro também que queria muito ser uma rainha, cientista, professora, bailarina, e até mesmo uma hippie. Lembro também do tanto amor que sentia no meu peito, e o vazio que logo invadia meu silêncio. Lembro de tantas coisas, tantas memórias, que tenho medo que meu cérebro esgote com essas memórias inúteis. Tenho medo que preencha todos os espaços e que não dê mais para conhecer pessoas novas, e situações diferentes. Tenho medo das minhas memórias inúteis e da minha maneira de decodificar o mundo. Tenho medo de mim, e desse silêncio todo.

Quando criança também queria ser azul. Nunca gostei de azul, mas estava focada na ideia de ter cabelo, e pele azulada. Minha avó, com seus olhos azuis, ria de mim. Claro, quem não iria rir de alguém que queria ser azul? Logo depois, quis ser astronauta e viajar para Plutão, porque desde criança meu planeta preferido era esse, e coitado, até Plutão deixou de ser o que era. Lembro também que ganhei um livro com o meu nome, e nele dizia que Layla era lua, então, por uns meses, passei a assinar Layla, a lua. Não entendo bem o motivo, só sei que gostava.

Também, desde novinha, nunca gostei do papel de sofredora. Sempre gostei desse mundo de ser a queridinha e o centro de tudo, e tudo isso é papel de gente insegura, eu sei. E sou muito insegura. Sou muito aflita e vivo com o gosto de derrota e de amor desperdiçado na boca todos os dias. Dei muito amor, e não recebi quase nada. Quis muito e não tive retorno. Fui muito e não voltei inteira. Mas a vida é assim, não é? Dar e não esperar receber, né? E também, tenho medo ainda de bêbados, e de chuva. Ainda gosto do Plutão, e coloco sal na batata doce antes de comer. E no fim das contas, eu só queria que alguém gostasse das minhas esquisitices.

Só queria que alguém entendesse meus horários e meus sonos nas horas erradas. Que quisesse minha companhia mas que também me deixasse respirar. Que entendesse que eu gosto de Nirvana e também sei todas as músicas de sertanejo decoradas. Que entenda minha insegurança no amor, e na vida. Que entenda meu medo de trovão, e meu ódio de dormir de meia. Que saiba respeitar meus taquicardias e minhas crises de sexto sentido. Eu só queria o que não existe, ou que se existe, está longe de mim. E mais uma vez, eu não faço a menor ideia do que estou fazendo comigo, e nem com a minha vida.

Pra onde foi todo mundo? Quando foi que deletei aquele carinha que me trazia paz? Pra onde foi aquele moço de sotaque lindo que tanto me quis nas noites e nunca num sábado a tarde? O que eu fiz de mim e dos meus sonhos? Por que Plutão deixou de ser um planeta? Cadê? Por quê? Pra quê? Como? Não sei. Nem eu. Domingo, dia triste né? Mas amanhã é segunda. Dia de ficar irritada. E depois terça, e depois... Depois é depois.

20 de mai. de 2014

Pretexto




Tenho tanto medo e tudo que queria era escrever esse texto sem nenhum pretexto, mas tudo se transforma em um eterno clichê sem graça, e sem os dois mocinhos se beijando no final. Não há comédia romântica. É apenas uma história em que o autor é o Wood Allen. Só drama, e talvez, um pouquinho de saudade inflamada, mas nada além. Só drama. Só. Eu sozinha, você comigo. Eu sem você. Você com o eu sozinha. Mas nada disso faz sentindo. Nadinha. Só queria dizer que:


É
     apenas  
                 um
                        texto
                                 que
                                        há
                                               um
                                                     pretexto
                                                                  de
                                                                       dizer
                                                                               que
                                                                                       sem
                                                                                               querer
                                                                                                           ainda
                                                                                                                     penso.



7 de mai. de 2014

Culpada




Não sinto tristeza, não sinto nada. O dia está nublado e isso me faz querer afundar na minha cama o dia inteiro. Mas esqueço que preciso seguir minha vida, e preciso lutar pelo meu espaço, mas ainda assim, não quero, não posso, e mesmo que eu quisesse, realmente, quero ficar aqui, quietinha, esperando o tempo passar. Descobri que depois de quase quatro anos, eu ainda tenho medo de relacionamentos. Tenho medo daquela sms chegando, dizendo o quanto pensa em mim, e o quanto me queria naquela noite. Tenho medo de enfrentar o mundo, e até mesmo uma certa preguiça de sofrer. Tenho medo daquela ligação que te fiz bêbada e ficamos conversando até as seis da manhã dizendo minhas teorias, e sem nenhum medo de ser quem eu sou. Mas olhe lá, meu lado egoísta fez você se afastar, e eu não quero correr atrás, nem fazer escândalo. Só quero ficar aqui esperando a vida fazer o mesmo percurso de sempre, e esperando o dia que esse medo idiota passe.

Tenho um lado tão racional, tão escroto, e tão cruel. Sou tão filha da puta quando menos preciso ser. Sou tão insensível quando na verdade, eu precisava é chorar. Sou tão cruel, tão desalmada, tão escrotinha comigo, e com aqueles que ficam em volta de mim. E do mesmo jeito tenho aquela insana que vive dentro de mim, e que vive dizendo que sou madura o suficiente para não necessitar de amor negado. Essa mesmo escrotinha adora dizer o quanto quero ter filhos, e o quanto quero finalmente respirar e ter a tal paz interior que tanto preciso e que mereço. Mas não, é melhor ser racional do que chorar por todos os cantos. Gente louca só é bonita nos textos. Gente triste só encontra o tal final feliz nos filmes. Porque mesmo gostando de drama, não quero tanto drama, só queria que fosse fácil pra mim, como foi pra você.

Você também foi embora, e eu não pedi nem ao mesmo que ficasse. Porque eu sabia que no fim do ano você deve ir embora. Porque meu coração era de outro cara, meu corpo era de outro cara, meu jeito era de outro, e agora, não há porque relembrar disso. Eu era daquele cara que nunca me quis por perto, e mesmo assim, só queria não ter medo de você, e nem do seu jeito tão assustador de dizer o quanto realmente me queria por perto. Desculpa se eu tive medo, desculpa se evitei, neguei e segui em frente como você mesmo fez. Eu só queria que esse texto ficasse bonito e mostrasse o tamanho do meu arrependimento, mas ainda assim, não consigo demonstrar nem o arrependimento, e nem o buraco dentro do meu peito. Apenas acabou, é isso.

Ao contrário do outro, você estava lá, me querendo, e querendo me fazer feliz. Ao contrário do outro, você enfrentaria meus anjos e demônios. Ao contrário do outro, você iria me fazer ficar e tenho a certeza disso. Você estava lá quando encontrei o outro cara que me teve verdadeiramente. Você estava lá dizendo que mulher sempre escolhia o pior para ela, e é verdade. Você estava lá quando pedi que me desse milhares de chocolates, e milhares de dose de vodka. Você estava lá, me esperando, enquanto eu, estava esperando o outro. Porque escrever sobre é difícil, e eu mal consigo arrumar as palavras certas para dizer o quanto estou arrependida por ter trocado meu passado dolorido pelo futuro que estava bem na minha frente. Talvez seja drama, não sei.

Também isso vai passar, mas não sei por quanto tempo a culpa vai continuar dentro de mim. Só sei que dói, e só sei que tenho a impressão que de novo, troquei tudo por um falsa realidade banal e poética.


3 de mai. de 2014

O dia que o amor morreu - Tati Bernardi



Na manhã que o amor acabou tinha urina no chão da sala. Uma pocinha bem pequena perto da planta. Fiquei na dúvida se era água caída do pratinho do vaso ou malcriação de bicho. Talvez eu tivesse regado e dado um quarto de antibiótico pra cachorra que estava com tosse. Na dúvida, pensei em fazer de novo. Sem saber, como expliquei, se era repetido. Água em dobro e metade do remédio seriam demais. Mas não fazer, caso fosse a primeira vez, seria de menos. Eu seco, eu rego, eu medico. Os imperativos simples e práticos de verbos serviçais burlavam dores pessoais de pronomes.

Na manhã que o amor acabou, almocei na minha mãe. Ela contou que a colcha colorida não tinha saído bonita na foto do site da imobiliária. Eu chorei e ela quis saber se colcha colorida me lembrava alguma coisa. Não lembrava. Mas as frases com alguma graça e nascidas pra nada emprestavam o charme da sua promessa, sempre me sabendo em urgências dosadas. Eu retornava com a felicidade direta de quem é procurada antes de se proteger e apertava suas letras comprovando, com minha digital, uma existência catalogada. Meu pensamento era um carimbo no horizonte toda vez que você gostava de ouvir.

Foram duas lágrimas. A primeira despencou rapidamente, como um suicida magrinho e sem talento. A segunda ficou um tempo ninada pelas bordas até que caiu já quase seca nem passando da metade do rosto. O sofrimento foi tão ralo que sequer alcançou o nariz. Fiquei com preguiça de alguma saudade surpresa crescer escondida e me apunhalar em brechas de fraqueza e carinho, mas ela nunca apareceu e agora, se chegasse, seria só uma fantasia bordada de última hora pelo tédio. Na manhã que o amor acabou, eu cismei que probióticos me protegem de não pegar gripe e que pego gripe sempre que o amor acaba. Me enchi de iogurte e isso me mostrou uma novidade em ver um amor acabando: era momento de adorar cabisbaixa uma história mas eu estava mais ocupada em me lançar cuidadosa aos dias que nem existiam.

 Que nome tem estar cagando pra única coisa mais importante do mundo? Veja que desde o começo do ano passado, só pra citar tempos recentes, o amor já acabou três vezes. Acabou em março, em agosto e agora em fevereiro. Mas, só porque o cinismo nos dá gosto pelo jogo do contrário, posso dizer também que, desde o começo do ano passado, o amor já começou três vezes. Começou em janeiro, em junho e em novembro. Temos uma média de três a cinco meses tanto pro amor começar quanto pra ele acabar. O que significa que logo mais tamos aí. E depois tamos aí de novo. Como se essa coisa que tanto aconchega a loucura, como se essa coisa que tanto acidifica os cortes, como se essa coisa que tanto vulcaniza os tamanhos. Não passasse de um ping pong exato que satiriza as metáforas de profundidade.

E só porque o cinismo nos dá gosto também pelo jogo do tudo a mesma merda. Até pouco tempo, tinha essa coisa de Nina Simone regida pela buzina de muco nasal no papel higiênico. Mas pra cada dia daquela semana em que o amor acabou, eu tinha uma entrega importante de trabalho e, se não me engano, uns dois almoços bem importantes e pelo menos um dos meus médicos bem difíceis de marcar. A vida seguiu tão normalzinha, eu falei pra minha analista. Tanto que você tá estranhando, ela respondeu. É. Sorrimos sem intensidade e duração, da casca que agora separava meu sangue de salivas. São águas que correm paralelas com uma pele no meio. Ela só disse “olha que bom” e ser tratada como uma pessoa não foi mais tão horrível. Eu amo pouco agora que não morro mais? Ela não respondeu. Depois mordi bem forte meu braço sem definir se era homenagem, despedida ou inconformismo. Ficou a suspeita de um espasmo de vício humilhado pela desimportância do costume.

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