7 de mai. de 2020

Quando você volta?


Tu sabes, eu poderia escrever copiosamente todos os dias da minha vida sobre você, poderia refazer um trezentos e sessenta e cinco dias sem você, porque basicamente fizemos aniversário separados. Tu sabes, eu adoro um drama. Desses que qualquer mãe ficaria com pena. Que poderia envolver psiquiatra, psicólogo, pai de santo, ex, atual e amigos de amigos. Mas para falar de você não preciso de nada disso. Posso ser crua, infantil, insistente, com crises e sem crises de ansiedade. Posso acreditar em meditação, mediunidade, espíritos, reencarnação, horóscopo, e para você está tudo certo.

Você me amou por esses anos todos, e eu sou grata por cada pedacinho da nossa história que existiu só em rascunhos de folhas de word, de mensagens, de declarações de madruga, de dizer:
Oi, tá dormindo? Tô sem sono...
É engraçado também dizer sobre gratidão, você sabe o quanto me irrita pessoas good vibes, e mais uma vez, você me aceitou. Aceitou minha irritação, meu jeito de autosabotar. De sabotar nós dois, de sabotar qualquer relacionamento paralelo que pudesse existir, de deletar, fingir, esquecer e brigar.

Se eu exagerava, você me dava um alerta. Se eu sumia, você me mandava sinais. Você me emprestou seu colo para quando meu mundo desabasse, me emprestou teu silêncio para que eu pudesse gritar, me emprestou sua voz para que eu pudesse ficar quieta. Não há remédio para dormir que tire minha fome de viver o mundo com você. Não há qualquer remédio milagroso de psiquiatra que me liberte de tentar viver só mais um pouquinho – e olhe só, eu nunca quis viver tanto tempo assim – Mas não é drama, é só para que eu aceite que eu preciso libertar para que a gente possa encontrar num futuro distante, ou não tão distante assim.

Eu tenho medo de chorar por isso de novo e nunca mais parar. Porque aparentemente isso é a única coisa que consigo fazer quando penso sobre. Eu choro bastante de saudade. Nunca chorei por ninguém por esse motivo. E você sabe, mais uma vez, o quanto eu sofri na mão de pessoas babacas. O quanto me entreguei, ou o quanto não me entreguei e me arrependia depois. Mas eu queria tentar. Só para dizer que tentamos, sabe?

Mas eu quero saber quando você volta. Quero enfeitar tudo com flores. Volta, vai. Volta só um pouquinho. Foda-se a libertação e o desapego. Eu estou pronta para ser brega por você. 
Não quis ser mais sua para que pudesse ser. Ou que eu pudesse te deixar livre e longe de mim. E doeu. Nossa, como doeu. Só precisava do seu jeito, do meu jeito, da nossa sintonia. E quando vi, eu reparei que me apaixonei pelo meu melhor amigo. E quando dei por mim, era tarde demais.

Quando você voltar, eu vou estar aqui. Parada, dura. Esperando o nosso lugar na história, e guardando um lugar para você na minha cama.

12 de abr. de 2020

silêncio




me vi silenciada
destruída
despedaçada
quando eu me tranquei no mundo

nua
não tão crua
sozinha
com vozes ecoando
nunca paravam
me diziam que eu não ia me curar

não iria embora
não trancaria a porta
não colocaria fim
não cortaria cabelo
nem daria nada
nem sexo
nem bebida
nem drogas

me vi eufórica
perdida de novo
ecoando socorro
para alguém

mas para quem?
quem é que me escuta?
quem é que está aqui?

Pai


Cresci sem pai, é verdade. Eu não consigo calcular tanto dando que foi causado a minha autoestima e a minha concepção de merecer passar por isso. Mas poxa, eu tenho pai.

Eu escuto desde mais nova que vão substituir o amor que eu nunca recebi do meu pai. Oi? Como assim? Não quero um pai. Eu sei, tenho a insegurança. Tenho que aprender a ficar. Tenho que aprender a segurar o meu mundo e não jogar a culpa no outro. E parece fácil, mas não é.

Sei que não vão fazer comigo o que ele fez. E se fizer, hoje, adulta e caminhando para a independência, sei segurar meu mundo. Sozinha. De cabeça em pé - mesmo que o rímel esteja borrado -

Pai, tua ausência me causou um drama, uma dor, um dilaceramento que nem sei ao mesmo se vou ficar curada. Sei que teve motivos, mas não precisava. Você não estava lá. Era só sombra, lembrança vazia. Pai, eu aprendi a lutar por mim, coisa que você deveria ter feito há anos atrás. Ter me defendido do meu vazio, do bullying, da tentativa de suicídio aos 20 anos, da anorexia, das drogas, dos remédios. Das vezes que eu quis ser fácil só para acabar rápido. Das vezes que tive vontade de evaporar porque não sabia que sozinha já me bastava.

Não tive tardes de diversão. Não tive passeios legais e dignos de fotos fofas para guardar. Eu aprendi a ser sozinha por isso. Aprendi a afastar e a sumir. Mas eu tenho pai. Eu tenho. Mas ele não tem uma filha. Ou não deve lembrar sempre que teve uma filha.

Tenho medo de nunca ser sadia o suficiente para falar sem mágoa. Tenho medo de não ser nada do que eu quero. Medo de não ser o suficiente, de sumir e de não querer mais ser encontrada. A minha terapeuta é quem sofre por tentar me entender, e tentar entender os estragos caudados pela teu vazio.

Mas poxa, eu tenho pai. Mas tenho mãe. Mãe mesmo. Mãezona. E tá tudo certo. A gente se basta. Mas queria ter um pai.

Você é o amor de uma das vidas






Você é o grande amor da minha vida, e eu nunca tive dúvidas disso. Você nunca teve dúvida sobre, e a nossa certeza não era tão certa assim. A gente se diluiu em milhares de partes. Era como se você fosse meu lar e nada importava. Não importava para onde ia, nem onde ficava, você sempre foi minha moradia, meu lar, e o meu clichê eterno sobre morar e ser de alguém. 

Eu sei, é complicado jogar em cima de você tanta responsabilidade. Os meus sumiços, os teus sumiços, o teu silêncio, e o meu silêncio. Mas você sabe, você era o que eu queria durante toda a minha vida. A única certeza que eu realmente tinha da vida era você. Era seu cabelo preto, seus cachos, sua voz, e a nossa distância que sempre te impediu e me impediu.

Mas você é o grande amor da minha vida. Ou de uma das milhões de vidas que existiu antes de ser isso, e antes de você o que é. Eram encontros de almas perdidas que precisam de salvação. Precisei encontrar perdão e aconchego no nosso espaço. No espaço que sempre foi teu e sempre foi meu.

Nosso amor morreu, descansou, mas nunca lutou da forma que tinha que ser. A gente se deixou para lá. Se acomodou, esfriou, esqueceu, e diluiu mais uma vez. Era o pai dos meus filhos, e eu torcia para que nascesse com o seu cabelo, com sua inteligência para exatas - já que eu sempre fui biológica -, e com seu senso crítico.

Nunca escrevi sobre você, mesmo que tenha observado tudo que fiz. Sei que leu todos os textos para todo mundo que já amei, gostei e esqueci. Escrevia frases soltas mas não era sobre você. Nem no nosso aniversário de onze anos. Nem sobre o quão apaixonada sempre fui, e quão ridícula também. Você esteve por mim, e eu estive por você. Seguraria de novo as pontas. Talvez enfrentaria tudo de novo. Você sabe, eu sou intensa e um tanto quanto masoquista. 


Mas o amor liberta, tu sabe. Te libertei. Mesmo que meu peito arda em chamas todos os dias de saudade. Mesmo que eu chore devezenquando ao lembrar.
Seja livre, lindo, com os cabelos cacheados que tanto gosto. Solte seu riso. E torço pra que o tempo tenha compaixão e te traga de novo. 

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