20 de jan. de 2011

Amélie, a última menina sozinha no mundo.


Ela era a última menina sozinha daquela cidade. Amelie, dezessete anos, filha de pais separados, um metro e sessenta e nove centímetros de drama, sorrisos e amores. Com cabelos na altura do seu ombro. E ela adorava se comparar a Capitu, a personagem de Machado de Assis.
Sim, Amelie tinha olhos de ressaca.  Era assim que aquela menina sempre se denominava, mesmo não sabendo o que significava detalhadamente essa expressão, olhos de ressaca. Amélia tinha algo que ninguém sabia o que era exatamente, sabia que ela sentia um amor inconsolável, mas ninguém realmente queria entender.  Já Amelie, não se importava se alguém queria entender sua vida ou seus próprios problemas. Ela queria apenas uma coisa, ela queria se esquecer.
Numa tarde, deitada em sua cama com seus novos travesseiros, foi tomada por uns pensamentos para lá de estranhos e algo extremamente aconteceu. Ela já não sentia mais nenhuma dor desse amor inconsolável, ela já não sentia mais nada. Pobre menina, todos diziam. E todas as noites, ela se perguntava. Eu sou a única menina sozinha desse planeta?
E se fosse? O que poderia fazer? Nada, simplesmente era isso.
A menina se achava solitária demais. E quem nunca se sentiu assim na vida? Solitária demais? Eu já, a Amelie também, e aposto que você que me lê, também. Vocês devem estar se perguntando, o motivo para essa menina se achar a última menina sozinha de todo planeta. Então, conto a vocês.
Amelie, com o seu amor inconsolável, não era triste, era pura. Exatamente isso, pura, acreditava em promessas, histórias com finais felizes, em filmes românticos e ela tinha algo que nenhuma menina daquela cidade conseguia ter. Ela era uma menina com fé, Amelie tinha em fé em tudo. Ela amava aquele menino, que hoje, não se lembra nem mais o formato de seu rosto e tom daquela voz. O menino que mudara sua vida para sempre. Agora, ele já era tão mais menino assim, ele praticamente já era um adulto. Dezoito anos, um número perfeito para um menino imperfeito. Quando se conheceram, ele tinha dezesseis, e ela quinze. E amores de quinze anos podem durar para sempre, Amelie.
Mas, o destino irônico como sempre foi e como sempre vai ser, em um movimento brusco afastou aqueles dois. E a vida de Amelie, parou no tempo. Onde está a menina com fé? Todos se perguntavam.
É a pobre Amelie já não era mais a mesma. E ela se sentia a menina sozinha por isso, mas havia algo curioso,  ela não estava sozinha, conseguira um namorado que amava, mas não era a mesma coisa. Amelie queria o menino, o menino que se esquecia dela a cada minuto.
Na verdade, digo que se esqueceu, mas não é a certeza, não escutamos ainda o lado dele nessa história toda. Mas até que, um dia, depois de tentar se enganar milhares de vezes ao dia com essa sua nova-falsa-paixão, o namoro acabou.
E agora, ela poderia dizer. Sou a última menina sozinha em todo mundo.
Mas não era verdade, há outras meninas sozinhas, Amelie. Alguém tentava dizer isso a ela, mas para Amelie, nada mais importava.  Ela estava no começo, exausta. Não queria mais saber de novos amores, ou quando ela queria, logo esquecia.
Sempre vinha a comparação com o menino, o menino insuperável. Ô tormento, pensou ela.
A dor que ela sentiu no começo, já não a sente mais hoje, é exatamente isso que acontece, você se acostuma com os fatos e com os argumentos.
Você se acostuma igual que a Amelie fez. Deixou de se importar, porque sabemos que essas dores vêm e vão milhares de vezes.  E todos sabiam que ela tinha algo que ela nem desconfiava.
Ela possuía sensibilidade, ela sentia, ouvia tudo que poderia fazer... tudo era feito com o coração, ela era sensível, era frágil, meio louca, meio apaixonada. E não, Amelie não aceitava ser assim, ela precisava ser dura, forte, inabalável. 
E essa era a magia, esse era o sentido.
Amelie, agora com seus quase dezoito anos, agora sim, um número perfeito e ela também continua imperfeita. Qual é a graça de fazer tudo certo? Qual é a graça de ser perfeita? Não há graça alguma. E essa menina, que tinha olhos de ressaca, sabia de algo importante. Mesmo que a vida dela havia parado no tempo, conhecera os clichês como um bom e velho clichê dizia. "Depois da tempestade, chega o arco-íris".
E daí, Amelie? Todo mundo sabe que você adora tomar chuva.

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