16 de fev. de 2014

Moby dick invade Nova York - Tati Bernardi





Começou assim: eu subi as escadas e lá estava você, querendo parecer jovem com uma camiseta brega manchada de pasta de dente. Eu caí da escada e demorei anos pra me levantar.
Eu te amava com uma mistura de todos os meus personagens e, por isso, tão intensamente. Eu era uma menina deslumbrada que amava ver suas invenções por aí, era uma menina carente que amava seu jeito de pai, uma mulher em formação que se formou com você, uma depressiva neurótica que precisava das suas piadas que deixavam tudo leve, até sua ausência e impossibilidade eu amava com toda a minha vontade de grudar em você pra sempre. Até que cheguei ao ponto de te amar sei lá por que, o que deve ser o verdadeiro amor.
Eu nunca dormi de verdade ao seu lado para não perder nenhum dos segundos rápidos e preciosos que você me dava. Eu queria suas malas perdidas e suas lacunas falsamente calmas num canto descascado de uma sala morta, esperando a minha vida e a minha cor. Agora elas estão lá, e eu nem sinto vontade de saber onde.
Por que raios você foi ultrapassar a linha da minha espera como alguém que testa sem intensidade o meu amor? Um dia seu cheiro começou a me dar um azedo na alma. Seu jeito, uma preguiça de me encantar. Suas palavras, um zumbido chato que me animava a prestar atenção em outra coisa. Era o instinto me dizendo que não dava mais pra sofrer. Amor também morre de saudade, sabia? E eu tinha saudade de te amar pura. Depois de levantar duzentas vezes e ir para o canto do ringue, cuspir sangue e ouvir a torcida dentro do meu coração gritar pedindo mais, eu fui a nocaute.
Você sabia melhor do que ninguém que a felicidade me esmagava e eu ficava ainda mais carente quando ganhava carinho. Por isso você era em doses homeopáticas a pessoa mais carinhosa do mundo e também o ser mais frio do planeta. Muito em pouco, o máximo no mínimo, quase nunca pra sempre, nunca mais todos os dias.
Mas agora você se distrai com as três passagens que comprou: uma para você e duas para a sua nova namoradinha, que é tão agraciada com culotes que precisa de dois lugares no avião. Ela não me parece dessas mulheres vaidosas mas, caso seja, e caso use cremes na bunda, sua nécessaire provavelmente será despachada.
Não é inveja, nem ciúme, nem dor, é cansaço dessa vida banal que me arrota na cara toda vez que eu engulo ar para aumentar ainda mais a minha intensidade. Por que as pessoas são assim tão esquecíveis e passageiras? Por que planejar uma agenda de motivos para não ser de alguém com medo de se perder?
É bode de imaginar patas grosseiras e mal cuidadas de elefante caminhando por seu assoalho que brilha vida nova, é tristeza em saber que suas mãos inchadas do batuque nunca mais vão me assumir, mas desfilam com a porpeta por esse mundinho idiota e fechado em que vivemos, é nojo de imaginar você adentrando naquela caverna gigante, peluda e úmida.
Uga-buga para todos vocês, e fodam-se.

Expulsão




Te expulsei dos meus textos. Dos meus sonhos. Das minhas utopias. Do meu dilema. E do meu peito tão cheio de cicatrizes. Te expulsei do meu corpo, do meu perfume, das minhas músicas. Te expulsei das minhas lembranças, da minha saudade tão corrosiva, do meu ciúme tão indelicado e da minha franqueza tão aguçada. Te expulsei do meu mundo para que você pudesse ser do mundo, de outros sonhos, de outras mulheres e de outros novos perfumes. É mais fácil te ver livre, e menos dolorido. Talvez, mais tarde, eu possa chorar por ter nunca te acorrentado, mas seria injustiça minha acorrentar alguém tão livre, tão cheio de si, e tão vazio de mim. Te olhei tantas vezes enquanto você virava seu rosto procurando algo que não sei nem o que é. Te olhei tantas vezes implorando para uma solução ou para uma resposta. Te olhei tantas vezes implorando para que também pudesse me libertar disso tudo. Porém, me acorrentou e eu quis ficar assim, quietinha, e esperando alguma decisão de quem não tem decisão nenhuma.
É mais fácil ser deles. Apenas digo algumas palavras, faço joguinho de interesse e eles já estão se jogando. Apenas sorriso, desvio o olhar e me faço de sonsa. E você sabe, odeio gente sonsa. Mas é mais fácil ser assim. É mais fácil evitar, desviar, e ignorar. É mais fácil não querer mais lidar. É mais fácil percorrer outros corpos, outros perfumes, e outros toques. É mais fácil ser dele. É mais fácil e mais leve. É tão mais solto, tão mais intenso, tão mais divertido, e olhe só: Não me dói em nada. É mais fácil ser triste do que feliz. É mais fácil cultivar uma tristeza sabendo que não há mais dor alguma. Você me curou de todas as neuroses do mundo mas ao invés de me manter calma, só conseguiu me acelerar mais. Ao invés de me curar, isso só piorou. E eu preciso tanto encontrar a tal calma na alma. A tal calma na alma que todas as músicas dizem, e que os textos definem. Preciso tanto ser deles, mas primeiramente, eu preciso ser minha. Preciso ser minha para que depois, possa realmente querer ser sua, ou de quem quiser levar.
Ninguém esquece a dor do desprezo. Ninguém esquece a dor do vazio, e do silêncio. Então, não há como voltar para o jogo. Estou remendada. Surrada. E tão cansada. São longas histórias de curvas tortuosas. São tempestades e dias ensolarados.
Te olhei pela última vez querendo que pudesse me levar para longe, mas olhe só, apenas conseguiu me afastar.


15 de fev. de 2014

Dos errados, eu sou a pior




A saudade aparece num sábado nublado em que resolvo ficar dentro de casa. A saudade aparece quando estou tomando banho e lembro de mil coisas de anos atrás e que hoje, não faz sentido algum. A saudade aparece quando a gente se tromba meio sem querer no meio de uma pista de dança. A saudade acontece quando eu estou com outro bonitinho, e que você está com outra bonitinha. A saudade ressurge quando a gente promete que essa seria a última vez. A saudade desaparece quando resolvo ir embora pela vigésima vez no mês. A solidão acontece quando resolvo que sou melhor do que isso, e que não mereço. A solidão acontece quando conheço tantos novos caras e tudo que eu mais queria era correr até você. Mas não tenho mais nada para dizer, e nem para escrever.
Não se preocupe quando eu resolver ficar calada, se preocupe quando parar de escrever sobre você. Não se preocupe se eu estou com outro, ou com aquele outro lá na frente, e até mesmo aquele outro lá atrás, se preocupe quando realmente ver que não há mais nada seu em mim. Não se preocupe com o meu silêncio, ou com o meu drama, se preocupe quando não me importar mais.
Coloco meu pijama mais confortável, faço um coque no meu cabelo e fico com cara de quem acabou de enterrar o grande amor da minha vida. Mas nada disso, é apenas uma feridinha dentro do meu peito que todas as noites, eu tento expulsá-la. É apenas uma dorzinha lá no fundo, uma fisgadinha de nada, uma gastritezinha boba. E com isso, eu fico deprimida em um pleno sábado nublado. Fico deprimida porque as luzes aparecem, Deus aparece, e a verdade plena estampa na minha cara: A culpa não são eles, e sim, eu. Sim, o problema sou eu. Não são eles.
Achei que o problema fosse o moreno alto que havia me conquistado de tal maneira que fiquei sem palavras. Achei que ele que era desligado demais, ou intenso demais. Mas não, o problema era eu. Eu que estava brincando de ser fiel ao meu passado tão articulado e tão mal feito. Eu que estava brincando de aumentar o ego, e de querer brincar de esconde-esconde no escuro. Eu que estava me rotulando, me quebrando, me montando novamente para ser o que não sabia ser. Achei que o problema fosse aquele estudante de medicina que só de me ver já me beijava, porém, não era. Tudo bem que ele era carioca, e tudo bem que ele puxava meu braço dizendo que morava perto do hospital e que queria me ver depois da festa, mas não, o problema não era ele, o problema mais uma vez, era eu. Eu que estava brincando de testar novos perfumes na minha pele, novos sabores, e novos homenzinhos. E até pensei que o problema fosse daquele menino novinho que dizia que eu tinha medo dele, ou até mesmo aquele meu veterano da faculdade. Pensei que o problema realmente eram eles, mas não, de novo, a culpa é minha.
Eu não sei colocar pontos finais. Sempre faço drama, sempre choro e sempre acho que as minhas dores são as piores do mundo, mas nada disso, minhas dores duram um dia. E meu tédio continua eterno dentro de mim. Preciso sugar até a última gota sua. Preciso ser sua mesmo que o mundo me empurre para o outro canto. Preciso me machucar mais um pouquinho. Preciso tanto que chego a nem querer mais. A intensidade me assusta. O vazio me corrói e eu só quero a última gota. Só quero brincar de ser sua antes que eu vá embora de vez. E está chegando a hora, e você sabe.
Dos errados, eu sou a pior. Das erradas, eu sou a melhorzinha. Das saudades, essa é a mais dolorida. Do drama, esse é o menos intenso. Do amor, esse é o pior e o melhor.


Condicional - Los Hermanos (na voz de Taís Alvarenga)

9 de fev. de 2014

O amor não é para os fracos - Fabrício Carpinejar




Amor é o que fica depois do desespero
Amor é o que fica depois da vingança
Amor é o que fica depois da solidão
Amor é o que fica depois das brigas
Amor é o que fica depois bebedeira

Amor é o que fica depois da fofoca
Amor é o que fica depois das dúvidas

Amor é o que fica depois do orgulho
Amor é o que fica depois dos gritos
Amor é o que fica depois da raiva
Amor é o que fica depois dos erros
Amor é o que fica depois da cobrança
Amor é o que fica depois do cansaço
Amor é o que fica depois de ir embora
Amor é o que fica depois de tudo

Não finja que ele é nada.

2 de fev. de 2014

A coisa





Alguma coisa ameaça, grita, chora
Alguma coisa não está certa
Mas quem é essa coisa?
O que faz? Como vive?
Como sobrevive, seus dias? 

Alguma coisa tenta e insiste
Desiste e persiste
Implora e reclama
Devassa
Explode
Chama
E clama.
Clama por mim, por você, por nós

Alguma coisa tenta ser o que nunca foi
Se tornou história
Se tornou conto
Se tornou ponto final
Se tornou apenas o que podia
Mas nunca o que realmente deveria

Mais fácil ser dos outros e nunca de você
Viver para eles
Se tornar parte deles
Querer a última gota
Do gozo ao suor

Aquela mesma coisa de sempre
Viver para criar
Criar a dor
Explorar o vazio
Entender o sentido
Vazio

E apenas isso

A coisa feita
A merda pronta
A saudade declarada
Nós, escondidos no silêncio
Eu sendo sua
Você sendo meu
E assim, a coisa se concretiza
Se eterniza
Se desfaz
E se vai

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