30 de set. de 2013

Por que você não arruma namorado? - Fabrício Carpinejar



Você não entende como não começa um relacionamento, como não se apaixona novamente, como não muda de vida.
Reclama da ausência de opções. É bonita, inteligente, divertida.
Minha hipótese é que não abandonou o passado.
Mantém flertes com o ex indiferente, ou continua saindo com sujeito que jamais assumirá o romance.
Raciocina que, enquanto não vem o escolhido, o príncipe, pode se entreter com velhas paixões.
Mas todos pressentem quando uma mulher está enrolada, todos intuem o caso mal resolvido, e não se aproximam.
Não virá ninguém para espantar os corvos e dissolver essa atmosfera pesada de Prometeu.
É trabalho em vão soterrar o precipício. Mulher desinteressada é impossível.
Ninguém ousará quebrar o monopólio de sua dor.
Você cheira a encrenca, cheira fidelidade a um terceiro. Seus ouvidos estão lentos, sua boca paira em distante lugar, seus olhos se distraem seguidamente.
Não tem brilho na pele, porém tensão nos ombros.
Sua respiração é um poço de suspiros.
Vive ansiosa por notícias, por reatos, mensagens. Não presta atenção, não se entrega para as casualidades.
Quem enxerga fantasmas não vê os vivos.
Não dá para começar um novo amor sem abandonar os anteriores. Errada a regra que a gente somente esquece um amor antigo por um novo.
Está com o corpo fechado, costurado, mentindo que já não sofre mais com as cicatrizes.
Espera herança, não sai para trabalhar ternuras.
Mendiga retornos, não cria memória.
Sua nudez não responde ao pedido da curva. Nem balança com a música favorita.
Está tomada do carma, do veneno, do ressentimento.
Pensa que está bem, mas está em luto. Uma mulher em luto não permite arrebatamentos, afasta-se na primeira gentileza que receber, recusa a prosperidade das pálpebras piscando nos bares e restaurantes.
Você nunca vai encontrar seu namoro, seu casamento, sua paz, se não terminar de se arrepender.
É preciso guardar o máximo de ar, ir ao fundo, descer na tristeza e nadar para longe dela.
Não amará outro alguém sem solucionar pendências, sem recusar o homem que não a merece, o homem que não vai embora e tampouco fica.
Não amará outro alguém sem abandonar algumas horas de alívio em motéis.
Não amará outro alguém se não bloquear as recaídas, se insistir em ressuscitar as promessas.
Uma mulher nunca será inteira se mantém romances quebrados.
Nunca estará presente.
Nunca estará aqui.
Entenda, minha amiga, só ama quem está disposta a ser amada.



Publicado no jornal Zero Hora 
Coluna semanal, Revista Donna, p. 6 
Porto Alegre (RS), 28/04/2013 Edição N° 1741


24 de set. de 2013

Silêncio - Martha Medeiros



Pior do que a voz que cala, é um silêncio que fala.

Simples, rápido! E quanta força!

Imediatamente me veio à cabeça situações em que o silêncio me disse verdades terríveis, pois você sabe, o silêncio não é dado a amenidades. Um telefone mudo. Um e-mail que não chega. Um encontro onde nenhum dos dois abre a boca.

Silêncios que falam sobre desinteresse, esquecimento, recusas.

Quantas coisas são ditas na quietude, depois de uma discussão.
O perdão não vem, nem um beijo, nem uma gargalhada para acabar com o clima de tensão.

Só ele permanece imutável, o silêncio, a ante-sala do fim.

É mil vezes preferível uma voz que diga coisas que a gente não quer ouvir, pois ao menos as palavras que são ditas indicam uma tentativa de entendimento.

Cordas vocais em funcionamento articulam argumentos, expõem suas queixas, jogam limpo.
Já o silêncio arquiteta planos que não são compartilhados. Quando nada é dito, nada fica combinado.

Quantas vezes, numa discussão histérica, ouvimos um dos dois gritar: "Diz alguma coisa, mas não fica
aí parado me olhando!"

É o silêncio de um, mandando más notícias para o desespero do outro.

É claro que há muitas situações em que o silêncio é bem-vindo.
Para um cara que trabalha com uma britadeira na rua, o silêncio é um bálsamo.
Para a professora de uma creche, o silêncio é um presente.
Para os seguranças de um show de rock, o silêncio é um sonho.

Mesmo no amor, quando a relação é sólida e madura, o silêncio a dois não incomoda, pois é o silêncio da paz.

O único silêncio que perturba, é aquele que fala.

E fala alto.

É quando ninguém bate à nossa porta, não há emails na caixa de entrada não há recados na secretária eletrônica e mesmo assim, você entende a mensagem

22 de set. de 2013

Não penso




Eu não penso mais em ser sozinha e nem carregar para sempre todas as minhas desilusões dentro do meu peito. Não penso mais em me vingar, nem ser a mulher bem resolvida da história. Não penso em querer ser a mais bonita, a mais fodida, a mais interessante, a mais em mais. Não penso em beber vodka e perder o rumo. Não penso mais em querer salvar o mundo, e nem o dia. Não penso em virar várias doses de tequila e virar uma Amy Winehouse. Não quero mais em trapacear e nem matar meus personagens. Não penso mais andar por aquela ruazinha escura e tão sombria. Não penso mais em te ver, e nem te ter por perto. Não quero mais nada e por não querer mais nada, eu quero tudo. Nunca fui boa em despedir. Nunca soube dizer adeus e nunca tentei ser boa nisso. Sou boa em descobrir cosméticos e até mesmo em criar amores platônicos, mas sou horrível em dizer adeus. Sempre chorei. Sempre vou chorar para me despedir, por mais que eu não queira mais. Por mais que eu não precisasse, nunca consegui dizer adeus e isso só me fez mal.
Tudo que eu queria, naquele tempo, era ser sua. Não sei exatamente ser de ninguém, mas estava disposta a tentar ser algo na sua vida. Não sei, talvez seria uma personagem principal, ou a personagem coadjuvante na história mais sem graça do século - até porque não há sentido escrever sobre ela -
Desisti de esquecer. Eu vou me lembrar de você quando ficar sozinha e pensar em escrever. Vou me lembrar de quando alguém me propor algo tão mesquinho e vulgar. Vou me lembrar de tudo o que você me fez sentir. De toda aquela imensidão. De toda aquele carinho vulgarizado. De todo o silêncio. E de todas as músicas ridículas. Vou me lembrar, porque você agora, faz parte da minha história. Tudo isso é errado e totalmente sem nexo algum. Tudo isso é horrivelmente estranho que não há mais graça, porque aqui, eu entrego os meus pontos e te faço campeão do seu jogo de horror.
Fico sem chão quando te vejo. Perco o ar e a minha gastrite ataca todas às vezes que você faz alguma merda muito fora do controle. E foi aí que eu descobri que estava literalmente envolvida: Minha gastrite nervosa atacou, minha insônia acabou voltando e eu quis mais do que nunca ser mulher o suficiente para a sua vida. Me falta o ar quando te vejo com outra. Me falta a noção do tempo e do espaço quando desisto de ser mulher para o mundo e resolvo ser mulher para a sua vida e para a sua história. Eu poderia muito bem chorar, mas agora, sou controlada. Porque depois de anos, eu consegui ser mulher o suficiente para o mundo e para a minha vida. Depois de ter chorado muito, de ter escrito muito, de ter feito tantos planos em cima de nada, resolvi que estou fora do jogo. Tenho medo de não conseguir mais parar de chorar ou de falar. Tenho zilhões de coisas a dizer sobre você e sobre a sua vida. Tenho trilhões de coisas que podem até não fazer sentindo, porém, eu sinto. Apenas sinto e não há explicação maior para isso. Torço para que não seja tarde demais. Torço para que não evite demais. Torço para não esnobar demais. Eu penso e repenso em tudo e me canso. Penso e repenso na vida, na história, nos excessos e até mesmo nas faltas. Penso e peco. Penso e peço. Penso e desisto mais uma vez de tudo.
Porque eu sei que quando resolver sair dessa história, a magia acaba. Eu não vou mais sentir aquele vácuo dentro do meu estômago. Não vou mais implorar para fazer parte de sua vida. Não vou mais querer ser sua. Não vou mais querer tentar e requentar qualquer contato. É tão triste despedir. E eu quero tanto grudar no seu braço e tentar impedir qualquer despedida do mundo. Eu quero tanto pedir para que não vá embora mesmo que eu tenha percebido que sim, chegou a hora de você ir embora. Vou sentir sua falta. Vou sentir falta da minha gastrite que resolvia aparecer. Vou sentir falta do seu toque e do seu perfume. Vou sentir falta de mim, e da minha ansiedade tão gigante. Vou apenas sentir falta mesmo que eu não deva sentir tanta falta assim. Já que você, não sente a minha falta. Bom, não pelo menos do jeito que eu sinto.
Não penso mais mesmo que seja tão difícil e incontrolável. Não quero mais. E tudo que eu queria, tudo que eu desejaria essa noite é simplesmente ficar.




"O meu desespero é que quando acaba, você fica inteiro e eu fico o pó"

6 de set. de 2013

Disfarces



Queria escrever um texto bonitinho que me entregasse de uma vez por todas. Queria escrever alguma coisa que houvesse conexão para minha vida, para o meu sentimento. Queria muito poder dizer "Ahá, te peguei!", porém, não dá. Enfrentei meus medos e dei nomes a eles. Medos que possuem nome, telefone e endereço. Amores passageiros que possuem telefones, silêncios e toques arrepiantes. Mas nada disso, nada acaba sendo maior que a minha angústia dentro do meu peito. Desde pequena sou mestre em disfarces. Na época do colégio, chiclete era proibido e mesmo assim, eu comprava um saco e levava para dentro da sala de aula, e se a tia me perguntasse o que estava mastigando, simplesmente dizia "é borracha, tia!". Nenhum dos meus amigos riam porque sabiam que era chiclete, porém, minha professora me achou louca e me mandava jogar fora todas às vezes, dizendo que os bichinhos iriam comer meu estômago, até que num belo dia, eu falei que era chiclete e o disfarce acabou.
Me disfarcei de desconhecida fatal que pudesse ser descolada, fria e moderninha. Enfrentei esse personagem durante anos na minha vida, porém, eu sabia que era apenas um personagem. Não deixei ninguém saber e por isso, fiquei tão perdida durante bom tempo. Me disfarcei de moderninha vida louca para que eu pudesse ser sua nas noites, porém, cheguei em casa milhões de vezes pedindo perdão por me sentir tão sozinha, tão impura e tão cruel. Me disfarcei de qualquer coisa que eu pudesse ser sua, mas me cansei durante as entregas e devoluções, cansei das noites, cansei dos silêncios, cansei de tudo aquela confusão que havia criado. Não era só silêncio. Não era só toques. Era eu que estava lá. Era eu e o meu coração que estava lá fazendo tudo que uma doida faria, porém, nada disso foi o suficiente. Sou estregada emocionalmente e isso é apenas um fato da minha vida que todos precisam entender. Sou estragada emocionalmente com uma gastrite nervosa que acaba estragando qualquer disfarce de mulherzinha perigosa. Mas eu não sou mulherzinha e muito menos perigosa.
Continuo enfrentando coisas que nem sei mais o que são realmente. Continuo enfrentando silêncio, angústia e a minha vida. Minha vida teima em me mandar seguir em frente, porém, quero segurar no seu braço e chorar. Quero implorar para que você me impeça de seguir em frente. Quero implorar para que você não faça isso comigo. Eu não mereço, e eu não preciso. Quero implorar mais uma vez para que não acabe com tudo que eu sinto. Pela primeira vez, eu gostei de você, sendo que eu nunca gosto de nada tão real. Pela primeira vez, eu havia me apaixonado por alguém perto, por alguém que realmente pudesse saber que sim, era de verdade. Quero implorar mais uma vez, as escondidas, para que você não seja tão babaca, tão vazio e intolerável. E por último, quero te implorar para que não destrua esse carinho tão absurdo que eu sinto.
A vida segue lá fora. A vida implora uma solução e eu não quero solucionar nada. A vida pede para que eu vá seguir minha vida e eu quero voltar correndo para o meu passado. O mundo implora para fazer seu devido percurso e eu fico aqui, cruzando os braços e vivendo de disfarces e de silêncios.
Todos os dias, eu peço força para desmanchar o meu disfarce. Todos os dias, eu imploro forças para seguir em frente sem dar mais uma olhadinha para trás. Todos os dias, eu te olho e jogo na sua cara tudo o que você deixou de fazer ou que fez excessivamente e que me machucou. Todos os dias, eu imploro. Todos os dias, me canso. Todos os dias, meu disfarce acaba. E você também disfarça. Você precisa disfarçar mais uma vez, como se não disfarçasse todos os dias. Gostei de você. Gostei dos teus cílios. Gostei do teu cabelo. Gostei do teu toque mas não gostei da sua voz. Não gostei da sua vida. E eu não peço mais para conseguir superar, hoje, eu quero que o disfarce acabe.
Um dia, eu te conto. Um dia, te desafio igual me desafiou durante esse tempo. Um dia, talvez. Ou nunca. Ou sempre.


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