27 de fev. de 2011

Doze anos - Carta



Vinte sete de fevereiro, de 2023.
Prezado Menino,

Olá, tudo bem? Aqui estou reescrevendo essa carta pela oitava vez, descobri seu endereço então me dei a liberdade de poder te escrever depois de muito tempo. Moro hoje na La Ville-Lumière e vejo casais apaixonados o dia todo. Tenho uma vida formada e doze anos já se foram. Como está sua vida? Se casou? Apaixonou? Me conte em detalhes. Ficamos muito tempo separados e gostaria muito de me manter informada como antes, lógico, se você quiser não é?
Então, estou com trinta anos. Nossa, quanto tempo, depois de doze anos volto a me lembrar de sua presença que na época era tão insignificante mas tão congeladora. Estou grávida pela segunda vez, sou casada, e tenho uma carreira bem sucedida aqui na França. Lembra? Você foi o primeiro, a saber, que curso eu faria na faculdade, então, dito e feito, sou formada em odontologia.
Sobre meus filhos, vou descrever aos poucos. O meu mais velho é a cara do pai, é lindo, tem os olhos claros, mas o cabelo bastante loiro, quase branco. E possui o seu nome, exatamente isso. Achei-o parecido com você, à personalidade é tão igual que resolvi por o seu nome nele. Para me lembrar constantemente de sua personalidade que tanto me fez falta nesses anos todos.
Você me fez falta, muita falta. Mal consigo me concentrar em escrever para poder te informar sobre o que acontece. Se sou feliz? Sou. Mas penso sempre que não deveríamos ter perdido a chance de sermos felizes. Claro, eu seria muito mais feliz ao seu lado. Mas hoje, com trinta anos, posso dizer isso sem qualquer medo.
Guardo nossa história com muito carinho, guardo e vou levá-la até os últimos dias de minha vida. Foi tão bom sabe? Me trouxe o que eu nunca tinha conseguido antes. Consegui sobreviver e sorrir novamente. Você me trouxe o que o tempo havia me tirado. Ah! Como era bom saber que existia alguém perdido nesse mundo que gostava de ouvir minha voz todas as noites. Como era bom saber que existia alguém que gostava de mim sim, do seu modo claro, mas agora, que sou adulta posso analisar isso sem dor alguma.
Pensei muito em você nesses anos todos, e continuo pensando como se fosse uma obrigação de te amar para sempre e te desejar o bem.
Creio que para você não foi fácil, creio que para você foi estranho não ter mais alguém que sempre te procurava e que desejava tanto o seu amor. Hoje, não desejo mais isso, preciso só de tempo.
Quando penso e repenso que tudo poderia ser diferente sempre acontece que, fico triste. Exatamente isso, fico triste porque sei que a nossa chance foi desperdiçada e que estamos perdidos e nunca mais seremos os mesmos de antes.
Só quero que você saiba que depois de muitos, muitos anos, eu penso sempre em você e sei que nosso destino não se cruzará mais, mas quero que se lembre disso. Estou sempre aqui,  me procure. Mas será que é tarde demais? Cresci com a ideologia que para o amor, nunca é tarde. Mas mal sei se você está também casado ou se está solto por aí, se morreu ou se realmente essa carta chegará ao caminho desejado.
Se lembre, se tudo der errado em sua vida. Saiba que é só desespero na hora, que logo depois tudo mudará e retornará ao caminho certo.
Quando atravesso a Pont Neuf e vejo os casais que se amam perdidamente me lembro de você, e do seu tom de voz. Aqui em Paris é lindo, cheio de vida e parece que tudo está tão mais intenso que o normal, e por isso me deu essa vontade de saber de sua vida novamente.

Com todo meu amor e carinho.
Layla Péres , França - Paris, 2023.



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