22 de out. de 2011

As outras



Eu gostava dele. De verdade. Gostava mesmo e ousava até mesmo dizer que ninguém jamais o amaria como antes. Eu gostava do seu sorriso, do que ele transmitia, do que ele falava e do seu sotaque. Gostava dos sonhos incompletos e do jeito tão irmão-protetor que exercia sobre mim. Gostei do jeito que ele falava ou me tratava. Gostei dele infinitamente mas tive que deletá-lo. Gostava do abraço, do sorriso que confortava e do silêncio que me deixava constrangida, cheguei até mesmo gostar do silêncio que existia entre nós mas que me deixava tão humilhada e fraca diante de todo aquele terror que resolvi continuar sem ao menos pedir permissão. Guardei tudo dentro de um relicário. Tive muito medo de não ser mais sua. Tive tanto medo de nunca mais conversar ou até mesmo encontrar nossos passos nas mesmas estradas de sempre.  Foi difícil tirar tudo do meu mundo. Foi difícil me despedir de cada parte que era dele. Foi difícil deletar, fugir, correr daquela história que me fez companhia. Desistia de enfrentar a vida porque lá era mais seguro. Desistia todos os dias de ficar melhor porque pensava que o destino seria bonzinho o suficiente para te mandar de volta, mas nada disso aconteceu. Tive que colocar minha cara a tapa, como sempre fiz e provavelmente como sempre vou fazer. Foi preciso criar uma nova vida com outros sonhos – Sonhos que nunca imaginei para mim – Foi preciso acreditar em santos, anjos e demônios mais uma vez. Nossa, como foi tão difícil!
Ele gostava de outra. Do sorriso da outra. Do cabelo da outra. Do jeito que a outra se vestia. Do modo em que a outra falava. Ele sempre gostava das outras e nunca de mim. E eu fiquei triste, tão triste. Porque eu queria que ele gostasse de mim, queria que ele sonhasse comigo e até mesmo prometesse que iria me amar para sempre. Eu queria que ele chegasse e me levasse embora de toda confusão que criei sem ao menos perceber. Tudo era difícil e forte, mas eu não tive escolha. Não tive mais escolha e não conseguia frear mais nada. Não consegui parar algo bem mais forte e poderoso. As outras eram fáceis, bonitas e cativantes. E eu era sozinha, sombria e descartável. Quis ser igual a elas para tentar descobrir como é se sentir assim. 
Tudo bem, eu fui. Coloquei salto, me comportei com elas. Fui fácil e entreguei o que deveria e o que não importava para os outros. Os outros que eram bonitos, fáceis e legais. Os outros que me juravam amor eterno. Os outros que em sussurros falavam que eu era a loirinha mais linda. E não acreditava em nada disso. Eu não conseguia acreditar em nada, nem neles, nem nas minhas visões. Não conseguia me entregar para nenhum deles. Só conseguia ser quem era de verdade em casa, depois que a festa tinha acabado. E no outro dia, não lembrava de nada. E a sorte muitas vezes era essa. Ninguém se lembrava de nada, nem eu, nem os outros. E eu queria tanto ele. O sorriso dele. A personalidade dele. Eu queria ser para sempre dele.
Foi ficando cada vez mais fácil me tornar igual as outras. E eu me tornei a outra. Sempre fui a outra porque não suportava tamanha dramaticidade em cima de mim. Uma dose forte de um lado, um sorriso malicioso de outro. Joga o cabelo de um lado. Nada como testar seu sex appeal. E joga mais uma vez. E vai com o outro, e vem com outro que não se sabe nem o nome. E eu não suportava mais. Na verdade, não suporto mais. Tudo foi para esquecer mas além de tudo isso, esqueci como era. Esqueci quem eu sou e o que sentia realmente. Tudo se tornou uma banalidade que não faz sentido algum. Tudo se tornou algo fácil, iludido e ainda assim engraçado. Chega a ser triste quando falam que eu não era assim ou que então, querem a antiga menina de volta. Quando era doce, meiga e com o coração puríssimo, ninguém me queria. Agora que resolvi ser algo que ninguém mais está acostumado, todo mundo quer que eu mude.
Precisei ser essa outra para que a loucura nunca mais chegasse. Precisei disfarçar esse amor tão puro por uma coisa tão oposta a isso. Precisei ser aquilo que nunca fui. Precisei ser simples e estava tão acostumada a ser complicada. Sem querer complico mas é porque ainda existe aquela outra dentro de mim. Aquela outra e velha menina que o amava sem freios. Ele nem ao menos me reconhece. E eu não me importo. Não mais. Foi preciso disfarçar e entregar os pontos. Foi preciso parar de ser tão santa, tão ingênua, tão burra. Foi preciso nunca mais acreditar em promessas. Foi preciso conhecer um outro mundo. E eu nunca mais saí de lá. Lá é melhor. Não sou tão imoral. Sou humana, erro, xingo, grito, mas sei perdoar. Deixei que os meus anjos e demônios aparecessem. As outras são legais com ele. E ele é legal com as outras. Talvez esse mesmo menino possa se tornar legal comigo, mas já não me interessa mais. Ele era lindo. Tinha um sorriso lindo. E me segurava. Me segurava e estava comigo quando mais precisei. E eu estava com ele quando sentia medo. Mas tudo isso passou, terminou. The end.
E ele continuou sempre com as outras e nunca mais comigo. Fiquei até mesmo feliz com isso. Fiquei feliz por saber que agora talvez, toda a loucura estivesse passando. E aquele amor tão puro já não existe mais.Ele que seja feliz com as outras de lá, porque cansei. Desisto de tentar entender algo que vai muito além da minha capacidade. Ele que seja feliz. Ele que fique com as outras, porque eu estou indo embora para sempre de tudo aquilo que foi nosso. 

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