19 de ago. de 2011

O nosso passado



Alfenas, 19 de agosto de 2011.
                                                     Para você,

Escrevo aos poucos essa carta sem ter a intenção que te faça mal. Escrevo porque preciso dizer de uma vez por todas tudo que acontece comigo. Você sempre foi o meu conselheiro. Você sempre foi aquela pessoa em que saberia que poderia contar. Você foi mais do que aquele menino mimado que retrato nos textos. Você não é tão filho da puta assim, não com os outros. A gente se olhou pela última vez, e eu já sabia que aquela ali era a nossa última vez.
Passei a escrever descontroladamente, passei até mesmo esquecer que eu tinha uma vida realmente. É difícil acumular as palavras certas para poder tentar escrever tudo que fomos e tudo que não chegamos a ser. A nossa despedida era ali. Era com minha prima em volta e todo aquelas pessoas na academia. Era com a minha mãe implicando para que eu não atendesse o meu celular. Era com a minha pulseirinha rosa de pedidos do Senhor do Bonfim arrebentando. Olhando por um lado, nós estávamos certos. Mas analisando o outro, totalmente oposto daquilo, nós estávamos errados. A idéia foi minha, o sonho foi meu, e infelizmente, o amor também chegou a ser somente meu.
Eu gostava da forma em que você confundia as bandas. Eu gostava quando você chegava com esses papos em que eu acabaria casando algum guitarrista ou baterista, mas em silêncio, eu dizia que eu não queria casar com nenhum guitarrista, eu queria me casar com você, sendo que nunca fui fã de casamento algum. Nunca acreditei em casamento, mas algo muito mais forte me fazia sorrir. Talvez pelo seu jeito de dizer, ou talvez por ter uma má impressão tão grande de tudo aquilo que acontecia. Você chegava com assuntos estranhos, queria até mesmo ter uma filha, e eu sorria, porque sabia que aquilo não era para mim. Eu sabia que nunca tive vontade de ter filho. Acostumei sozinha com essa idéia de ser sozinha, entende? Então, não adianta. O meu destino é esse. O meu destino é continuar a ser sozinha, mas com algumas idas e vindas. Mas de todas as bizarrices, de todas as coisas bizarras que havia acontecido comigo, você chegou a ser a melhor. Lembrei de todas as nossas brincadeiras e daqueles silêncios contraditórios que tanto me irritavam. Lembrei daquele abismo que existia entre o querer e o poder. Quando não gostávamos de um assunto, sempre deixamos para lá. O vácuo era mais do que esperado. E eu já estava pronta para enfrentar o que viria pela frente. Eu queria ir embora, você disse que era pra eu ficar. Queria mudar de turno no colégio, de país. Queria cancelar minha conta da internet, e até mesmo apagar qualquer coisa que poderia acontecer. Mas não, o máximo que consegui foi te deletar do meu Orkut, que naquela época, era ainda uma mania. Foi corrosivo viver do jeito que vivemos. Enfrentamos algumas coisas, deletamos outras, e ignoramos as principais. melhor de todas.
Nosso passado foi esquecido e trancado a setes chaves. Não comento sobre você, não digo o seu nome e finjo que nem te conheço. Você não se lembra de mim, não se recorda o tom da minha voz e nem dos meus defeitos. Foi preciso fingir que estava tudo bem para que pudéssemos ser o que queríamos. Não sei mais, não entendo, não me questiono. Quando o seu nome é o assunto entre a roda dos meus amigos, só consigo sorrir. Um sorriso fraco. Ah Layla, essa foi a pior coisa que você já fez. Ah Layla, você poderia ter economizado palavras e sentimentos por ele. Ah Layla, eu ainda acho que ele gosta muito, só que você sabe, há muito coisa entre vocês. E a minha sorte que eu não acredito mais nessas frases que acabaram se tornando um clichê. Acabaram se tornando repetitivos, mas eu cansei  mesmo de enfrentar o mundo por aquele que não me quis mais por perto.
Não foi por mal, eu sei disso. Não precise pensar ou até mesmo se sentir mal por ler todos os textos. Não pense que eu te culpo. Me tornei alguém melhor e eu agradeço isso a você. Não, eu não estou sendo irônica, só estou dizendo a verdade. Estou alguém bem melhor depois que aprendi que não se pode ter tudo. Eu sei que você nunca mais vai me ligar, sei até mesmo que você já não se lembrará do meu sotaque tão puxado. Mas o pior de tudo é que já não tenho mais vontade alguma de ir na sua casa e invadir seu mundinho. Eu não tenho mais vontade de te encontrar, nem te dizer o que sempre quis. Não tenho mais vontade de pedir para que você volte. Não tenho nem ao menos vontade de dizer em sussurros para Deus para que tudo acabe logo. Chega disso.
Escrevo hoje só para você se recordar do que fomos. Escrevo para que quando você sinta saudade, saiba que aqui continuará tudo que o que eu senti por você. Escrevo porque tenho saudade mas infelizmente ou não tão infeliz assim, não quero voltar.
                                                                                                            De-sua-não-sempre-sua, Layla Péres

Nenhum comentário:

Postar um comentário


Layout: Bia Rodrigues | Tecnologia do Blogger | All Rights Reserved ©