7 de jul. de 2015

Para o bom e velho Caju





Nem ao menos me recordo quando foi a primeira vez que ouvi sua música, lembro apenas que me encantei perdidamente com uma voz rouca meio embriagada e que possuía tão cheia de vida. E eu, aos meus treze anos, me sentia do mesmo jeito: embriagada pela vida e com uma sede enorme de fazer a tal revolução no mundo. Coitada de mim, eu só queria ouvir minhas músicas, e ter meus amores platônicos em paz, e você estava lá, Cazuza, me acompanhou em todos os momentos que passei.

Sua voz estava comigo quando terminei meu primeiro namoro aos quinze anos. Chorei horrores e soluçava na mesma frequência em que você dizia "Eu protegi teu nome por amor, um codinome beija-flor...". Sua voz estava comigo quando iniciei uma paixãozinha platônica qualquer e logo em seguida fiquei viciadíssima na música Poema, em que você compôs e eu tenho a versão do Ney Matogrosso no meu velho computador.

Há 25 anos você se foi, e levou junto sua sede de mudar o mundo, a sua rebeldia eloquente, e aquela velha intensidade de ser exagerado por toda vida. Nós que somos exagerados e intensos temos isso, não é? Queremos passar pela vida das pessoas deixando marcas profundas. Eu, por ter o ascendente em aries, me sinto uma ariana fora do meu ninho virginiano. Eu, me sinto tão parecida em tantos aspectos. Principalmente quando você dizia que os filhos únicos são seres infelizes. Sim, Cazuza, filhos únicos são incrivelmente infelizes. Somos egoístas e desajustados, mas há uma poesia, melodia e uma melancolia que chega até ser bonita dentro de nós. E nós somos assim, intensos, doloridos, exagerados, e querendo matar aquela sede na base de uma saliva qualquer.

Sabe Caju, eu também morri de amor milhões de vezes, e pode até ser exageradamente mas é verdade. Sempre morri de amores, e provavelmente continuarei morrendo por aí, pelos caminhos que ando, e pelas frases que teimo em escrever, assim, meio torto. Não quero ser o pão ou a comida de alguém, e nem procurar algum remédio que me dê alguma alegria por aí. Só queria talvez assim, ser um pouquinho neutra. E olhe só, eu, a rainha do exagero, querendo ser neutra. É muita ironia para uma vida só, Caju.

Me recordo quando tinha meus dezesseis anos e ficava ditando para todo mundo que meu partido é um coração partido, e adorava imaginar o que você pensava quando dizia que os teus heróis haviam morrido de overdose. E infelizmente Cazuza, meus heróis morreram de overdose e de AIDS. Infelizmente Cazuza, você foi um desses que fez parte de tantas frases não ditas minhas. Não quis ter nunca alguém que fizesse sentido ouvir O tempo não pára. Nunca quis ter alguém que eu pudesse dizer que a piscina dele está cheia de ratos. Tuas músicas me ensinaram o que eu devo ou não achar em alguém. E eu sou grata por isso.

Eu também já amei alguém, e também sei que raspas e restos são chatos demais. Obrigada por ter me ensinado por não aceitar migalhas de amor por aí. Cazuza, continuarei protegendo meus amores com codinomes. Continuarei chorando baixinho quando ouvir sua versão da música de Cartola. Continuarei escrevendo loucamente pelos meus cadernos e twitter suas frases soltas. Continuarei buscando suas músicas como resposta, ou pelo menos, continuarei buscando suas músicas para que me consolem.

O seu Brasil, Cazuza, continua querendo mostrar a cara há anos. Continua pobre, continua a luta de burguesia em que você vivia dizendo que graças a ela, não havia poesia. O seu Brasil, Cazuza, continua pobre, e explorado. Não há mais cara alguma para mostrar. Cazuza, não há cara, nem dor. Há apenas poesia. Sua poesia ficou, e espero que você fique em paz.

Eu ainda vou me apaixonar milhões de vezes novamente e vou cantar baixinho Eu preciso dizer que te amo. Vou chorar baixinho, alto, soluçando ou não. Continuarei caçando frases soltas, textos soltos, tuas frases e tua poesia, mas é como você mesmo diz:



Essa vida é para se mostrar. Só quem se mostra se encontra. Por mais que perca no caminho. 




E Cazuza, se foi uma coisa que realmente aprendi com você é, não tenho o menor medo de viver.







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Um comentário:

  1. Encontrei seu perfil no ask nem me lembro como navegando aleatoriamente na internet.
    Me chamou atenção na época seu perfil que me pareceu melancólico e um pouco depressivo, achei que fosse alguém que estivesse passando por algum problema e estivesse usando a internet para se distrair.
    Porém ví que vc tinha esse blog e percebi que esse é seu estilo mesmo.
    Não te conheço pessoalmente, moro em outro Estado, sou mais velho do que você, mas achei você a maior figura.
    Enfim a internet propicia essa falsa proximidade, que me fez mesmo não sendo entusiasta de rede sociais e coisas do gênero vir aqui escrever algumas palavras que possivelmente você até ignore.
    Cuidado com tanto drama e melancolia, na verdade esse tipo de comportamento pode fazer mal no longo prazo.
    Tem muita gente fazendo da internet um divã, fica o conselho: Se for possível seja mais leve, mais positiva no jeito de pensar, fique mais atenta quanto a isso, pode parecer besteira, mas essa mudança ou melhoria de postura pode fazer grande diferença na vida.

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