1 de dez. de 2013

Manoel



No começo, Manoel, doeu muito. Doeu de todas as formas que poderia doer em uma pessoa. E você sabe, Manoel, você sabe que eu sou daquelas que sente muito por todo mundo. Eu sinto muito por tudo, por todos. Sinto pelo mendigo que está lá fora e pela pombinha atropelada. Sinto pelo vazio dentro do seu peito, e do meu amor desperdiçado. Sinto por aqueles que não sentem, e por aquele que não sente nem pena de mim. Sinto muito, sabe? E eu sinto muito por ter visto tudo aquilo que não deveria. Sinto muito por mim. Colori personagens, e desfiz sentimentos. Construí frases feitas com efeitos significativos e ignorei o óbvio. E eu sei, Manoel, eu não deveria ter feito isso. Ignorei o mundo porque minha verdade sempre prevalece. Ignorei o destino e todos os avisos celestiais. Você sabe, eu pedi luzes mas como diria aquele bom e velho ditado: As pessoas vêem o que querem realmente ver. E eu apenas vi luzes verdes para que eu pudesse atravessar e seguir, e não deveria ser assim. É uma pena que não te ouvi, Manoel. Aos poucos, me acostumei. Estranho, né? Eu sei que você também deve estar rindo para mim. Na verdade, você deve estar rindo de mim e dizendo "Se fudeu, troxa!" Mas alivia dizer que também estou sofrendo por isso? Alivia dizer que não quero seguir em frente? Eu não quero seguir em frente. Só quero ficar aqui quietinha, para sempre, observando.
A dor é temporária. Doses de vodka são facilmente substituídas pelas dores eternas. Minhas dores tão eternas mas tão passageiras. E são milhares de promessas vazias, e copos solitários durante a noite. Meu corpo clama por descanso e só sei me foder, e foder, e foder com tudo. Com a minha vida, com o meu corpo, e com a minha consciência. Quero tanto parar, Manoel. Quero tanto dizer um basta, mas como eu faço isso? Como posso deixar de lado sabendo que há tantas coisas para dizer? Coisas que jamais são confessadas publicamente, e jamais devem ser registradas. Como posso dizer adeus sendo que quero ficar? Como, Manoel? Preciso de uma luz. E olha, sei que não estou disposta a enxergar luz alguma, já que estou com sono.
Lembro de todos os fatos e de todas as palavras tortuosas. É como se eu pensasse que tudo isso tem algum propósito, mesmo não querendo enxergar qual é o propósito. Certo, foi apenas mais uma dor numa noite caótica. Foi apenas uma cosquinha no ego, mesmo sabendo que tudo está perdido e não há mais caminhos. Não posso voltar, e não devo ficar. Só quero ir em frente mesmo sabendo que daqui alguns anos, acordarei assustada, e querendo ter notícias. Porque sei que é assim, não é Manoel? Sabe, Manoel, dói ser gente. Não consigo pensar em outra palavra sem ser dor. Dor rima com amor, mas só consigo me lembrar de Tédio que não me lembra mais de nada. Peço desculpas por brincar com as palavras, porque eu sei que é complicado querer que eu fique séria e centrada quando esqueço que sou apenas uma mulher assustada.
Queria tanto dizer a verdade, Manoel. Queria que tudo fosse mais claro, mais limpo. Queria tanto poder dizer o que sempre sonhei. Eu sei, Manoel, sei que posso dizer mas são coisas que não deve se ditas, entende? Não há motivo algum para revelar meus segredos. Não há motivo algum para continuar socando essa ponta de faca. E eu só consigo me ver sangrando por continuar assim. Daqui uns dias, Manoel, você vai me chamar de ridícula já que mais uma vez, estarei voltando a etapa inicial. Mais uma noite, eu vou chorar e querer surtar. E aí esqueço de novo, como sempre fiz, como sempre vou fazer. Tenho tantas opções, Manoel. Tantas... Infinitas... E eu posso muito bem escolher, mas finjo que não existe nada e ninguém. Finjo que não sei do que acontece. Tento enganar meu sexto sentido e minha maldita intuição. Finjo que não quero estar. Finjo, e fujo. Fujo todos os dias, e todas as noites. Fujo e não quero mais me encontrar.
Tem algo dentro de mim que continua vivo. Algo dentro de mim que implora por uma saída, por uma solução. Tem algo que pede para que eu volte para a vida que eu estava, para os sonhos que eu tinha. Tem algo que reza para que eu volte chorando para a sua casa e que eu diga que aceito ser leve demais para você. Mas tem algo que implora por vida nova, vida cheia de outras coisas, outros sonhos, outras pessoas. Sou divida por um lado que pede para voltar ao passado, e o outro que implora pelo futuro. E tudo que eu mais queria nesse exato momento é parar. Sabe, ficar quietinha aqui dentro desse quarto escuro. Ficar aqui esperando que tudo se resolva ou que tudo se foda se a minha ajuda. Queria me tornar uma bolha em cima do mar. Queria ser uma bolha que fosse com o vento e de repente, pluft! sumiu.
Sabe, Manoel, eu queria tanto e por querer demais, eu não quero mais nada. Eu queria tanto, desejei tanto, implore tanto em silêncios, que no fim das contas, não quero mais. Espero Manoel, que amanhã, eu não tente me sabotar. Espero do mundo do meu coração que não tente novamente. Espero só para poder dizer que não esperei mesmo sabendo que não há chance alguma. Sabe, Manoel, me deixa dormir aqui com você. Sim, não vou te atrapalhar. Por favor, me abrace e diga que vai ficar tudo bem. Minta isso para mim, por favor. Me abrace e diga que sim, amanhã tudo estará melhor, mesmo sabendo que não, amanhã não vai estar melhor.



Nenhum comentário:

Postar um comentário


Layout: Bia Rodrigues | Tecnologia do Blogger | All Rights Reserved ©