24 de mai. de 2013

Apagar



Eu me apaixonei todos os dias por você. Depois de meses de silêncio, eu resolvo me pronunciar sobre o assunto. Depois de vários choros engolidos, depois de vários silêncios declarados, eu venho aqui, exposta, imoral e sem o mínimo de lucidez possível para dizer o que realmente preciso. Escrevo para não enlouquecer. Escrevo porque aqui, você, é o personagem e será eterno. Aqui é seu lugar. Aqui. Apenas aqui.  Tomei meu remédio e fiquei esperando dormir ou sumir no mundo, rolei na cama e fiquei pensando por alguns minutos torturantes como que eu deixei chegar nesse ponto. Estou emocionalmente esgotada, estou totalmente afetada e digo isso sem medo algum de julgamento. Escrevo para não enlouquecer, digo isso novamente para tentar aceitar que dor mais uma vez venceu, mas ainda assim, eu tenho meu remédio e daqui a pouco eu irei apagar mais uma vez.

Mais uma vez, eu fui embora. Mais uma vez, eu voltei mas fiquei quietinha. Olha para mim, vai! Eu tô aqui. Ei, você não tá me vendo? Oi, volta, volta, volta, por favor! Não, não faz assim! Não escreva assim, não faz isso comigo. É uma pena. Pela primeira vez, nos meus dezenove anos de vida, senti pena de mim e da minha vida. Senti pena de todos os caras que já passaram pela minha vida. Senti pena da minha mãe por aturar minhas neuroses e meus choros noturnos. Senti pena do meu cachorro que só de ouvir meu choro tenta me consolar. Senti pena do meu mundo mais uma vez. Senti pena, foi isso. E eu não poderia sentir pena de algo que me fez sentir tão viva, tão pura e tão louca. Eu não poderia sentir raiva, nem pena, nem nada. Eu não posso sentir mais nada. Mas logo eu apago. Logo eu deito na minha cama e vou dormir. Logo o mundo acaba e eu volto só na manhã para começar novamente um dia sem nexo. Logo, logo, muito logo. Eu fiquei lembrando o jeito que me olhava e o quanto eu me sentia perdida. Eu nunca havia feito nada igual, não havia sentido nada igual. Dói mas passa, um dia. A melancolia bateu. A tristeza deu o le grand finale. E eu não quero mais nada.

Acho que tô apagando, acho que amanhã é dia de ser de novo o que não sei bem o que é. Amanhã eu resolvo o que quero ser. Me deixe ficar aqui, me deixe afundar na minha cama. Me deixe ficar aqui, quietinha. Me deixe ficar na sua história, juro que fico em silêncio. Me deixe para que um dia, eu possa me deixar.





Se quiser, ouça. 


"Escrevo para não falar sozinho - Cazuza."


Layla Peres 



Comente com o Facebook:

Um comentário:


Layout: Bia Rodrigues | Tecnologia do Blogger | All Rights Reserved ©