12 de abr. de 2020

Pai


Cresci sem pai, é verdade. Eu não consigo calcular tanto dando que foi causado a minha autoestima e a minha concepção de merecer passar por isso. Mas poxa, eu tenho pai.

Eu escuto desde mais nova que vão substituir o amor que eu nunca recebi do meu pai. Oi? Como assim? Não quero um pai. Eu sei, tenho a insegurança. Tenho que aprender a ficar. Tenho que aprender a segurar o meu mundo e não jogar a culpa no outro. E parece fácil, mas não é.

Sei que não vão fazer comigo o que ele fez. E se fizer, hoje, adulta e caminhando para a independência, sei segurar meu mundo. Sozinha. De cabeça em pé - mesmo que o rímel esteja borrado -

Pai, tua ausência me causou um drama, uma dor, um dilaceramento que nem sei ao mesmo se vou ficar curada. Sei que teve motivos, mas não precisava. Você não estava lá. Era só sombra, lembrança vazia. Pai, eu aprendi a lutar por mim, coisa que você deveria ter feito há anos atrás. Ter me defendido do meu vazio, do bullying, da tentativa de suicídio aos 20 anos, da anorexia, das drogas, dos remédios. Das vezes que eu quis ser fácil só para acabar rápido. Das vezes que tive vontade de evaporar porque não sabia que sozinha já me bastava.

Não tive tardes de diversão. Não tive passeios legais e dignos de fotos fofas para guardar. Eu aprendi a ser sozinha por isso. Aprendi a afastar e a sumir. Mas eu tenho pai. Eu tenho. Mas ele não tem uma filha. Ou não deve lembrar sempre que teve uma filha.

Tenho medo de nunca ser sadia o suficiente para falar sem mágoa. Tenho medo de não ser nada do que eu quero. Medo de não ser o suficiente, de sumir e de não querer mais ser encontrada. A minha terapeuta é quem sofre por tentar me entender, e tentar entender os estragos caudados pela teu vazio.

Mas poxa, eu tenho pai. Mas tenho mãe. Mãe mesmo. Mãezona. E tá tudo certo. A gente se basta. Mas queria ter um pai.

Nenhum comentário:

Postar um comentário


Layout: Bia Rodrigues | Tecnologia do Blogger | All Rights Reserved ©