21 de ago. de 2014

Folha de papel






Ela olhou com preguiça de tudo. Era um novo recomeço, um novo capítulo, uma nova falta de interesse. Havia se esgotado emocionalmente durante dois anos, dois profundos anos, e que essa era a hora de tirar um tempo de tudo. Tirar um tempo do mundo, das pessoas, e do próprio passado. Era hora de recolher os cacos, seus pedaços, os pedaços das cartas rasgadas e de dar a volta por cima. Era a hora de começar a pensar mais em si, mais no seu corpo, mais no seu cabelo, mais numa personalidade. Era a hora de moldar uma nova pessoa. Ser dolorida, bonita e poeta já não bastava mais. Era preciso mais alguma coisa. Mas a pergunta sempre é: Mais alguma coisa, o quê?

As pessoas vinham e voltavam. Ela se sentia sendo um próprio aeroporto de sua vida. Estava acostumada a dar tchau, e a dizer oi. Estava acostumada a desfazer laços, planos e percursos. Estava tão acostumada a mudar rotas de sua vida, que antes mesmo do final, ela se reinventava e resolvia partir antes. Estava tão acostumada em ser passageira, e leve, que chegou a muitas vezes acreditar que era feita de papel. Nem ela sabia o que isso significava, mas gostava muito de dizer que era levíssima como uma folha de papel ao vento. Nem ela entendia seus próprios textos, mas ainda assim, preferia acreditar que escrever salvaria a vida dela.

Um homem a encantava mas ainda assim, não a manteve interessada. Outro homem aparecera e era o mesmo dilema de sempre. Era tão fácil conquistar aquela menina mas o difícil mesmo era mante-la interessada e centrada no mesmo assunto. Era tão fácil levar um sorriso bobo dessa garota, era fácil até demais, mas o problema é que logo depois a seriedade tomava conta, e não encontrava mais motivo para sorrir. Essas oscilações de humor era mais um charme perdido dentro de uma folha de papel. Não poderíamos enumerar quantos encontros ela desmarcou. Não por coragem mas sim por preguiça. Preguiça do novo, preguiça de recomeçar, preguiça de se recompor, e de se moldar novamente.

A menina vaga pelas ruas com um sorriso perdido, com um olhar distante, com um nariz levantado. A menina vaga pelas ruas escrevendo poemas e imaginando quantos amores se desencontram. A menina me olhava com vontade de chorar. Sua dor era exposta, e não havia malícia naquilo. Seu rímel descia pelas bochechas, e se eu olhar buscava uma resposta. Eu, que era apenas um espelho, apenas observava tudo que acontecia. Eu, que não podia fazer nada, apenas observava sua chagas emocionais e seu descarrego.

As pessoas corriam e ela só queria parar. Nada aquilo se encaixava, e era muita preguiça. Ela não gostava de ser tão madura. Ela preferia dar meio passo de cada vez para a maturidade, já que tinha medo de cair em seus próprios pés em cima do seu ego que era tão frágil. Seu ego que foi reconstituído a força. Foi preciso se entregar para outros caras, e outros perfumes para que tudo voltasse ao normal. Pobre menina, foi exposta para o tormento e para o sufoco. Foi exposta e ficou tão cansada de tudo. Pobre menina que havia se tornado uma pobre folha de papel amassado.


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