3 de jul. de 2011

What the hell



Senti saudade numa hora para outra mas eu sabia que agora eu estava entrando num novo processo. Não sei bem o que quer dizer isso, mas parece que só te amar já não bastava e eu precisava de algo mais. Precisava seguir minha vida de qualquer maneira, por mais errado que fosse o caminho.  Mas aí, o tempo tá passando, os amores vêm e vão. Me sinto usada, na maioria das vezes.  Eu danço, bebo, comemoro por vencer mais um dia. Danço, bebo, comemoro e entrego meu corpo a qualquer estranho. Como se ele pudesse me devolver inteirinha, sem tirar e nem por. Mas é em vão, e mesmo assim, ainda continuo nessa insistência de vencer os dias, nessa insistência de fingir que eu to ignorando. Lembro que eu era criança e já não acreditava muito em príncipe. Na infância, todo mundo já me deixou claro que homens não se tornavam príncipes e que eu, nunca teria apenas um amorzinho. Eu sei, agora sei a sorte que tenho por alguém ter me avisado isso. Resolvi dar um tempo, parar de escrever e seguir a vida conforme diz o mandamento de uma menina bem resolvida. Mas nem tudo é tão fácil como parece.
Salto, maquiagem fortíssima, cabelo hidratado e copo de vodca na mão. Aos poucos percebo que sou intensa demais e preciso me comportar. Mais vodca, mais sorrisos, mais entregas. Nem ligo muito na hora, na verdade, a consciência pesa depois. Mais vodca, corpo mais leve e passa um menino e me leva junto. Quero voltar, e consigo. Volto, mais vodca, mais dança, mais entregas. Pensamento chega. Pensamento vai embora, quero ir embora mas ao mesmo vou ficando, já que sou uma nova menina com novas ideologias. Corpo leve, agora eu estou fácil, bem fácil.  Olhar intenso, foda-se o mundo, foda-se as ideologias do amor verdadeiro. E quando dei por mim, estava com sabe-se lá quem. Parece que a menina santinha e inocente já não é tão mais inocente. Parece que a sofredora se tornou a causadora de todo sofrimento.
E eu odeio a sensação pós-festa. Uma sensação horrível de ter bebido, de ter falado o que queria e um nó na garganta de não ter conseguido nem ao menos seguir em frente. Pouco penso nele, é verdade, pouco penso e pouco falo. Ninguém mais se interessa, nem eu. O mundo nem foi tão cruel comigo, eu fui muito mais cruel comigo. Me iludi e boicotei todos os meus sonhos, porque era mais seguro amar alguém que nem lembrava meu nome. Sempre foi mais seguro me infiltrar nessa história do que viver alguma nova. Me iludi, criei sonhos em cima dele, e desisti de outros que eram tão bonitinhos. Chorei sozinha, reclamei sozinha, acabei me tornando algo que não sei mais quem. Fui má comigo. Em vez de vítima, ganhei papel de destaque de vilã nessa história. E eu estou me acostumando, juro.  E eu só queria me infiltrar porque era mais seguro, totalmente mais seguro. Nunca tive medo de viver, mas nesse caso, viver me deixa com sérios problemas. Sou vilã porque não agüento ter fama de boazinha ou de santinha. Não sou santinha, não sou boazinha. Sou uma menina que faz coisas certas e erradas e isso é absolutamente normal. Chega um dia que é preciso crescer. Chega um dia que a gente quer desistir e outros querem tentar. Chega um dia que o mundo não suporta mais sua carência e te rotula. Chega um dia que partimos para outra, já que estamos cansadas de esperar por alguém que não se importa. Ele não me dá mais a mínima, não quer mais saber de mim, e deve nem mais me ler. Mas eu não sinto raiva, nem ódio. Não quero dar a volta por cima só para mostrar ao mundo que estou bem. Primeiro, eu preciso dar a volta por cima para que eu possa perceber que sou exatamente o que achava. Eu sou forte, tenho sonhos, tenho uma vida inteira pela frente entre desilusões, vodcas e responsabilidades. Mas chega um dia que precisei deixar o rótulo de santinha só para dançar conforme a música da tal vida. Tive que deixar algumas ideologias para aprender corretamente como que se faz. Chega um dia que ser taxada como louca não faz mais sentido. Chega um dia que eu vou querer ser levada a sério. E eu não tenho orgulho algum, e continuarei correndo atrás daquilo que acredito. Penso que muita coisa poderia ter sido evitada. Muito choro poderia ter sido adiado, muito sonho poderia se realizar, muitas pessoas poderiam ir embora de vez. É verdade, não sei deixar ninguém. E eu invejo quem consegue. Com o tempo eu fui aprendendo o que todo mundo realmente deseja.
Já que ninguém mais me dá valor, eu também comecei acreditar que não merecia qualquer forma de valor. E garanto que é bem melhor assim. Não sou triste, não sou nada. Sou uma menina com ideologias e atitudes complexas. Minha alma é pesada, é triste, é sombria. Tenho pensamentos obscuros, tenho vontade de parar a qualquer momento. Mas eu não me dou o valor que tão pedi para o mundo que me desse. Com a falta desse menino, conheci tanta gente, me virei em cada situação, pude enfrentar o mundo na base do grito ou até mesmo na base do silêncio. Agora eu sei o quanto dói desprezar alguém. Agora eu sei o quanto dói um silêncio. Agora sei o que quero : Não quero fazer mal a ninguém, por isso, evito relacionamentos. Sou sozinha e sei conviver com isso. Sei que posso sobreviver muito bem sem nenhum amor inflamado dentro do peito. Sei até mesmo que tenho um potencial incrível de dar a volta por cima. Tenho fases de bem resolvida e de depressivas. Não é preciso aturar tudo, e nem sempre sou capaz de enfrentar o que está em minha volta. Escrever numa foi perda de tempo. Escrever nunca me fez mal. Mas ultimamente é preciso parar com isso. Chega de me ferrar sozinha.  Aos poucos, tudo vai mudando. Pessoas se transformam, sentimentos acabam, e você aprende que o mundo nem é sempre coerente. Aos poucos, você vai indo embora com o futuro, sem muito se importar se vão te dar valor ou não. Aos poucos, vou deixando dessa história para poder viver outra. Aos poucos, vou me acabando junto com o passado.  E não tenho mais paciência para gente que fica de graça para cima de mim. Não tenho mais paciência, na verdade, nunca tive.
Mas aí, a festa acaba. A bebida me faz ter amnésia. A bebida me faz ser o que sempre fui. E eu não me importo, porque todos estão bêbados e não vão se lembrar de mim. Não me importo, não mesmo. A festa acabou, fiquei de boa, brisando ou até mesmo querendo que tudo passe, porque eu sei, nada disso é sanidade, tudo isso é loucura. O tempo passou. E a menina cresceu.                               


                                    Se quiser, leia ao som de What the hell - Avril Lavinge

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Um comentário:

  1. Voce escreve super bem.
    Em muitos momentos me identifiquei com o texto.

    Vi que voce é de ALfenas. Minha irmão tb mora em sua cidade.
    Sigo-te.
    Beijo

    Dri
    http://calmaamor.blogspot.com

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