Eu escrevo e reflito enquanto a neblina toma o céu de São
Paulo. Nunca a vi aproximar dessa forma, ou será que é a primeira vez que eu a
vejo assim? Será nosso primeiro encontro de outros encontros futuros de outros
outonos que se aproximarão? Será que será nossa última vez? A neblina abraça os
prédios ao meu redor, e eu me sinto abraçada por ela. Iguais as vezes que me
abraçaram em meio ao caos, desconsolo, e ao frio que fazia dentro e fora. Dentro
de mim e fora da minha cabeça. As luzes vão ficando distantes, frias, e congeladas,
numa espécie de boas-vindas para essa sensação de melancolia, sufoco, saudade.
O outono me deixa triste.
Mais triste, mais descontente crônica, e mais enraizada.
Eu não gosto de São Paulo. Não gosto da sensação de achar que vou encontrá-lo
em qualquer esquina. Não gosto da água. Não gosto das pessoas. Não gosto do
tempo seco. Não gosto de correr para ir e voltar. Não gosto das pessoas que
encontrei por aqui e são de lá. Não gosto das despedidas que enfrentei por aqui
– mortes, saudades, desconsolos, e sozinha – Não quero viver nessa ansiedade de
sempre achar alguma coisa que não vai ser encontrada e nem desencontrada. Não
quero viver na fronteira entre querer continuar e não saber qual o caminho
trilharei primeiro.
PAUSA. A neblina está mais forte. Parece que está começando a chover.
Voltando sobre o fato de não gostar. Eu gostava dele. Desse menino esquisito,
feio. Eu quis. Desejei igual desejei morar em São Paulo e não gosto mais. Mas
vou para qual lugar? De novo? Mudar? Não. Fugir? Virar lenda urbana seria legal.
Eu gosto dessa ideia. Gosto da ideia de achar que algum lugar ficará perfeito
para mim. Nem solto, nem apertado. Simplesmente perfeito. A solidão daqui não
me assusta. Dessa vez, eu escolhi a solidão. Tive o direito de escolha em ser
sozinha dessa vez. O silêncio me faz parte da minha existência e eu não sabia
que merecia tanto e precisava tanto. Ser sozinha e se aceitar a ser sozinha,
pode ser junto ou separadas da neblina que segue rodeando, e agora, eu sinto
frio.
Eu senti frio na barriga quando te vi. Era como se eu fizesse as pazes do meu
outro eu do passado que tentava ir embora, e foi. Mas não consigo entender o
motivo de não me vejo como falam que sou. Eu queria ser essa pessoa que eles
dizem que sou, e me descrevem como tal. Me descrevem como se me conhecessem há
anos. Como se estivessem comigo iguais a essa neblina lá fora, e esse friozinho
que se mistura com o interno e externo. Eu quero ser essa pessoa, mas não sei
ser. Acho que sou outra. Ou será que me veem como vejo a neblina hoje?
As luzes estão mais distantes, e estão se apagando. A minha insiste em piscar,
mas se nega a apagar.
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