Eu tinha 18 anos e você era a solução de todos os meus problemas. A nossa solidão se tornou amigas com o tempo, e os nossos corpos se encaixaram como se fossemos amigos de velhas décadas, ou de outras vidas, ou éramos velhas almas procurando descanso para que depois pudéssemos ir embora. Era apenas uma menina perdida numa cidade comum, fazendo coisas comuns e tentando me destacar no mundo. Você era um cara comum, se mudando para uma cidade comum e tentando me conquistar.
A tua companhia foi a divisão de águas da minha vida. Foi como se eu nascesse de novo, mas sendo a mesma pessoa, tendo os mesmos sonhos, as mesmas preferências. Mas também foi o divisor para que houvesse tanto medo, tantas dúvidas, e tanto silêncio misturado com um vazio que gritava.
Ainda me recordo do seu cabelo preto em cima do meu peito. Ainda me recordo da última vez que te vi e tive a certeza que ali não era meu lugar, não era mais a minha história, e da mesma forma que tudo conspirou para que fossemos dois jovens juntos, fez com que nos tornássemos apenas dois jovens em uma história que houve um fim, e que os corações foram partidos sem nenhuma licença poética para isso. Depois do nosso fim, eu sobrevivi todos os dias. Era como se eu pensasse: Puxa, acabou, só falta 360 e poucos dias para o ano acabar, e eu poder esquecer de vez. Mas você estava ali, no fundinho da minha memória.
Você estava comigo quando eu beijava outro cara. Você estava comigo quando eu zerava alguma prova da faculdade. Você estava comigo quando o mundo inteiro gritava e eu apenas queria correr para a nossa esquininha de sempre. Pela primeira vez, eu sentia saudade das suas costas, das suas pintinhas, e do seu jeito de andar como se controlasse o mundo. Poxa, moço, me dá licença, tira seu pé dos meus sentimentos, e da minha saudade.
Queria te contar que aprendi a gostar de esfiha, e de ir para as festas. Queria te dizer que aprendi a gostar das pessoas de um jeito meio torto, e que eu parei de escrever. Queria te dizer que mudei o meu cabelo, parei de ser viciada em academia, mas que eu ainda continua com as minhas vontades doidas de mudar o mundo. Queria te dizer que te substitui inúmeras vezes ao longo desses anos, e tudo se tornou uma busca desenfreada pela sua falta, ou pelo vazio que havia se tornado.
Queria te dizer também que já não sou mais tão impulsiva, e nem tão mandona como antes, mas ainda fico irritada quando as coisas saem do meu controle. Queria te dizer também que não te odeio, não do jeito que você acha. Queria te dizer mais alguma coisa também: eu ainda sinto sua falta nos meus sábados, e nos meus domingos.
Eu não deixei te amar, nunquinha. Mas eu preferi abrir mão da nossa história para que ela pudesse se tornar história de outras pessoas. Preferi abrir mão porque meu peito sangrava demais, e eu havia me tornado uma pessoa amarga e triste mesmo com você. É mais fácil desistir, menino. É mais fácil fingir que o amor nunca existiu quando se tem tantas dúvidas, e tantos medos, da mesma forma que nós tivemos. A reciprocidade é uma benção, e nós fomos abençoados, mas não era o bastante. O amor nunca foi o bastante para que nós sobrevivêssemos.
Só queria terminar esse texto para dizer que perdemos a guerra, mas não perdemos o amor. Ele irá renascer em algum canto futuramente para que se torne mais bonito, mais sadio, mais leve. Que sejamos felizes em outro lugar, de preferência, no nosso lugar, mas não agora.
Eu pude voltar ao início.
Conheci outros perfumes, outros toques, outras risadas.
Conheci um mundo totalmente diferente.
Mas e por mais que a gente se canse, talvez, seja para o nosso lugar que a alma quer voltar.
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