2 de jul. de 2021

Seguidora de Freud

Há três anos comecei a terapia. Olhei para minha psicóloga e soltei um "Então, achei que estou precisando de uma ajuda..." Ela, sem graça, concordou. Achei que seria difícil me abrir para alguém tão desconhecido, mas achei traços na moça que são familiares. Ela parecia minha professora de história de 2007 e que depois, em 2011, foi minha professora de sociologia e filosofia. Inclusive, me adorava. Me achava divertida, falante, serelepe. Então, foi fácil gostar da nova psicóloga. E descobri a tal plenitude do autoconhecimento, mas isso não quer dizer que não chorei. Aprendi a chorar! Com exclamação e tudo. Porque pela primeira vez, depois de vinte e poucos anos, eu conseguia sofrer em paz. Sofrer falando ainda! Do jeito que eu gosto! 

Só vou me envolver com gente que faz terapia e saiba o valor disso. Coitada de mim. 

Mas depois, como todo relacionamento, eu terminei. Fui para a psicanálise. Parecia que a antiga já não me completava do jeito que era. Faltava alguma coisa, mas como sempre me faltou sempre a vida toda, eu deixei passar. Mas dessa vez, só dessa vez, eu não virei as costas para a minha insuficiência, ou como gosto de dizer, sempre insatisfeita crônica. Queria tomar remédio, sumir, de novo. Depois de enrolar, pensar, pesquisar sobre Lacam, Freud, e todos as linhas possíveis como se eu entendesse de qualquer coisa da área - lembrando que, eu sou área de saúde mas não tenho conhecimento nenhum sobre psicologia - 

Novamente, depois de três anos, fiquei cara a cara com a nova psicóloga. Tentei achar traços com alguém parecido para desenvolver algum sentimento, mas não achei. Ela só é bonita, inteligente, mas é filha única. Eu também sou filha única. E filhos únicos se comportam perfeitamente para a mãe perfeita e para o pai perfeito. Então, é isso. Filhos únicos são esquisitos e só outra pessoa assim consegue entendê-los. E finalmente, eu encontrei o que tanto procura numa terapia.

Tudo bem ser louca, mas você não é. Para ser louca, você precisa ser muito ainda. Ela me disse.

E eu sei. Agora eu sei. Eu não sou louca.
E olha que já tive outros diagnósticos. Mas ela não me vê como diagnóstico. 

E agora, eu virei a pregadora fiel de Freud. Os dias passam e oscilam entre querer quebrar o túmulo inteiro, e correr para abraçá-lo. Porque ele consegue dar nomes ao que eu sinto. E todo mundo sabe que eu me amarro em definições. Ele me define, mas com muita licença poética, me deixa espaço para não limitar. Consigo me abraçar. Abraçar aquela mesma pessoa que teve que enterrar várias pessoas, vários sentimentos, e que amadureceu. Não queria escrever sobre gostar de fazer terapia, porque de primeiro, eu odiei. Odiei me expor. Odiei ficar vulnerável. Odiei ficar crua. Sem essência. Sem loucura. Sem meu charme de estragar tudo.

Não é normal acostumar com a dor. Não é normal só conhecer esse caminho. Ela me disse.
E depois repetiu que eu era igual as flores de lótus que tenho tatuado: Eu renasço no lodo.


Não é normal não pensar em amar e odiar o Freud.


 


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